Com a presença de seu presidente, Claudio Lottenberg, do vice, Luiz Kignel, da secretária geral, Célia Parnes, e do diretor executivo, Sergio Napchan, a CONIB realizou nesta quarta-feira (4) no Congresso Nacional o Seminário “A Contribuição e o Legado da Comunidade Judaica no Brasil”. O evento, realizado no auditório Nereu Ramos, da Câmara dos Deputados, contou com a presença de autoridades políticas e diplomáticas e parlamentares. Também estiveram presentes lideranças judaicas, como o presidente executivo da Fisesp, Ricardo Berkiensztat, a presidente a a diretora da ACIB, respectivamente, Tamara Socolik e Vivienne Landwehr.
Entre as autoridades estavam presentes ou representadas, Daniel Zohar Zonshine (Embaixador de Israel); o presidente eleito da OAB-DF, Paulo Mauricio, e o secretário de Relações Internacionais do Distrito Federal, Paco Brito, representando o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha.
O evento começou com a leitura de apresentação da CONIB pelo Mestre de Cerimônia:
“Com um histórico de mais de sete décadas de atuação como representante da comunidade judaica do Brasil, a CONIB tem sido uma ponte essencial entre a comunidade e os poderes públicos, bem como um elo com diversos organismos da sociedade civil. Além de preservar e promover a identidade judaica brasileira, a CONIB contribui ativamente para o enriquecimento cultural, social e político do Brasil, posicionando-se de maneira firme no combate ao antissemitismo e à intolerância. Hoje, celebramos a rica história, os valores e as contribuições da comunidade judaica ao nosso país. Que este seminário seja um espaço de reflexão e inspiração, reforçando os laços que nos unem enquanto sociedade plural e democrática. Sejam todos bem-vindos!”
Após a execução dos hinos de Israel e do Brasil, o vice-presidente da CONIB, Luiz Kignel, abriu o primeiro painel, com um agradecimento: “Hoje, temos orgulho, como cidadãos, de pertencer a este país, que tão bem acolheu nossos avós que fugiram de perseguições na Europa nazista durante a Segunda Guerra. Aqui encontramos um país acolhedor e somos gratos por isso”.
O Primeiro Painel abordou “A perspectiva histórica da presença dos judeus no Brasil” e teve como palestrantes Daniela Levy e Eneida Beraldi Ribeiro, autoras de “Os Judeus e a formação do Brasil colonial”, com mediação de Luiz Kignel.
Daniela Levy abordou a contribuição dos judeus no período colonial. Falou sobre a convivência que os judeus tiveram na Península Ibérica por sete séculos, em estreita colaboração com a sociedade local. “Foram expulsos da Espanha e foram obrigados a conversão forçada em Portugal”. Citou a descoberta do Brasil e a chegada do cristão novo Gaspar da Gama, que desempenhou papel importante como conselheiro e interprete. “Esse foi o primeiro descendente de judeus que pisou no Brasil”. Citou também outros nomes de judeus que deram a sua contribuição histórica ao País, como Fernando de Noronha, Raposo Tavares, entre outros.
Eneida Beraldi Ribeiro começou falando de seu orgulho de fazer parte de grupo na USP criado por Anita Novinsky. Falou sobre a inquisição, sobre a atuação dos tribunais ibéricos, tanto da Espanha quanto de Portugal, “onde os presos não sabiam porque estavam sendo punidos”. “Havia em Portugal uma espécie de ‘segredo’ que envolvia as denúncias e os denunciantes. O preso então acabava entregando potenciais réus, os mortos. Era um terror psicológico que, com o tempo, acabava em tortura física”.
“Aqui desenvolvem um judaísmo possível, já que não havia sinagogas. Passavam às gerações o que receberam de seus antepassados. Por muito tempo se dedicaram à agricultura. Eles liam o que conseguiam contrabandear. Assim, o Brasil se tornou um país leitor, onde livros eram lidos em esnogas, que, naquela época, era onde os judeus se reuniam para ler esses livros e trocar ideias”.
Participaram da primeira mesa Gilberto Abramo, Claudio Lottenberg, Luiz Kignel, o vice-embaixador israelense Jonathan Goren, deputada federal Luisa Canziani, presidente eleito da OAB-DF, Paulo Mauricio, deputado federal Kim Kataguiri, Celia Parnes; Paco Brito, representando o governador do DF.
O deputado federal Gilberto Abramo destacou: “O Brasil tem muito o que aprender com o povo de Israel”. Destacou que desde a chegada dos primeiros judeus, a comunidade judaica tem dado grande contribuição ao País, que vai além do material, se reflete nos valores de justiça, solidariedade, respeito, no combate à intolerância e em defesa de uma convivência pacífica, pilar essencial para o desenvolvimento e para a paz mundial”.
Gilberto Abramo passa a palavra ao vice-embaixador, que afirma: “É importante fortalecer a relação entre Brasil e Israel. Esta é oportunidade de agradecer à CONIB pelo apoio a Israel neste momento difícil”
Um rabino fez uma benção especial dada aos filhos de Yacov, uma benção sacerdotal.
Kim Kataguiri: “Em 11 anos de militância política e seis de mandato aprendi que justamente nos momentos difíceis é que se tem a clareza de quem são seus amigos e quem são inimigos. Neste momento delicado que a comunidade judaica passa destaco o apoio da Casa ao Estado de Israel. Tive a oportunidade de visitar Israel pouco antes dos ataques (de 7 de outubro de 2023), vi uma sociedade feliz, pujante, apesar dos conflitos e de ameaças de países vizinhos, uma sociedade de pessoas que tem orgulho de viver onde vivem”.
Luisa Canziani saúda todas as mulheres presentes e Claudio Lottenberg, “grande parceiro”. “Um dia especial que deve ser descrito com uma só palavra: gratidão, por tudo que a comunidade judaica contribuiu com o Brasil e com toda humanidade. Assim como o deputado Kim Kataguiri tive uma experiencia transformadora quando visitei Israel. Um povo resiliente que não deixa ninguém para trás”, destacou e encerrou sua fala com a leitura de um soneto
Paulo Brito, representante do governador Ibaneis Rocha, afirmou: “Não podemos falar da historia do nosso pais sem citar a grande participação desta comunidade”. Lembrou a recente assinatura de adesão do govenador à IHRA (Aliança Internacional para a Memória do Holocausto). “Os nossos laços de amizade vão muito além da diplomacia”, pontuou.
Celia Parnes agradeceu a cada um dos presentes, aos amigos da comunidade, “que têm voz em defesa da comunidade judaica”.
Claudio Lottenberg destacou a presença de representante do Paraguai, “que (em breve) vai mudar embaixada de Tel Aviv para Jerusalém”. “Isso é muito significativo porque reafirma o compromisso na luta contra o antissemitismo”. Agradeceu aos diretores da CONIB e da Fisesp e a todos que se solidarizam com Israel e com o que a comunidade judaica vem passando desde os ataques de 7 de outubro de 2023. Falou da situação trágica dos reféns que continuam em cativeiro, manifestou reconhecimento aos que se posicionam contra o antissemitismo, destacando que essa “não é uma ameaça apenas à comunidade, mas sim à toda sociedade”. Falou sobre o regime totalitário do irã, “que alimenta grupos terroristas como os houthis, Hamas e Hezbollah”.
“Me causa espanto o Brasil, com tanto compromisso e ideário democrático, que nos desaponta com a atual política externa. Não podemos compactuar com uma política externa que se alia ao que há de pior. Essa guerra não é territorial, é de facções e de ideologia. Aqui faço um alerta que não podemos ignorar: se não agirmos com firmeza essa batalha de ideologias pode se alastrar. Aquilo que começa com os judeus não acaba com os judeus. Falo isso em defesa da sociedade brasileira para que permaneça atenta. A luta contra o antissemitismo é de todos. Mas temos convicção plena de que o bem vencerá”.
Em mensagem de vídeo, a diretora do Senado Ilana Trombka afirmou: “Este é um excelente momento para falar da contribuição dos judeus ao Brasil. Tenho certeza de que ao final do seminário todos sairemos enriquecidos”.
Claudio Lottenberg outorga a comenda Amigos da Comunidade Judaica do Brasil aos que lutam contra o antissemitismo, a intolerância e o discurso de ódio. Os agraciados: Paco Brito, Carla Zambeli, deputada federal Luiza Camziani, Kim Kataguiri, deputado Gilberto Abramo, Paulo Mauricio, Silas Câmara, da Frente Parlamentar Evangélica.
Deputado Silas Camara: “É um privilégio estar aqui neste momento, principalmente por causa do momento em que vivemos. Esperamos um futuro melhor para Israel e para todos”.
Claudio Lottenberg recebe comenda de Kignel e homenagem Frente Parlamentar Evangélica – a maior honraria concedida pela Frente Parlamentar Evangélica (integrada por 201 deputados e senadores), entregue pelo seu presidente, Deputado Silas Câmara.
O Segundo Painel destacou “A modernização do Estado brasileiro e as lideranças da comunidade judaica que se destacaram nesse processo”, além da contribuição dos imigrantes judeus e da cultura judaica na sociedade brasileira. Esse painel teve como palestrantes Roberta Sundfeld e Célia Parnes e contou com a mediação de Sergio Napchan.
Sergio Napchan destacou a contribuição dos judeus na modernidade, desde a chegada de refugiados da Europa e do Oriente Medio. Lembrou que inicialmente esses imigrantes formaram uma colônia agrícola no RS, e depois se instalaram em São Paulo e Rio de Janeiro.
Roberta Sundfeld apresentou uma perspectiva histórica. Falou sobre as instituições judaicas no Brasil, o MUJ, que funciona no antigo templo Beth-El, “um lugar que além de contar a história dos judeus no Brasil, é um museu dedicado à sociedade como um todo”. “O MUJ tem um grande arquivo sobre a história das instituições judaicas”. Citou Anita Novinsky e abordou as organizações comunitárias, falou sobre o apoio dado a imigrantes e refugiados, sobre a criação de hospitais, laboratórios e bibliotecas. “Hoje as entidades têm profissionais trabalhando em gestão e no auxílio aos necessitados. Citou os princípios judaicos Mitzva e Tsedaka, como uma importante motivação judaica. Lembrou também a chegada dos primeiros judeus na Amazonia onde trabalharam no ciclo da borracha, como comerciantes e citou a exposição Judeus na Amazonia, no Museu Judaico de São Paulo.
“Ao contrário de outras comunidades, os judeus que vieram para o Brasil vieram para ficar. Por isso criaram escolas, sinagogas, hospitais”, afirmou. Destacou o trabalho das mulheres na criação de organizações para ajudar mães que trabalham. “Os judeus que aqui chegaram eram pobres e começaram a trabalhar como mascates, ambulantes”. Citou o trabalho do medido Moyses Deutch, que ajudou necessitados. Hoje ele dá nome a um hospital do M’Boi Mirim, Citou escolas e hospitais para tratar casos de tuberculose e o cuidado com os idosos. Citou também a Cooperativa de Crédito do Bom Retiro, que fazia empréstimo para que os que chegavam pudessem comprar produtos para revenderem. “Judeus e não judeus podiam pegar empréstimo nessa cooperativa”. Citou ainda o trabalho desenvolvido pelo Tenyad e outras iniciativas judaicas, como a criação de cemitérios, de clubes, como A Hebraica em SP, Rio de Janeiro, Porto Alegre e em outras cidades. “O Einstein criado em 1955 com o objetivo de retribuir o acolhimento, tornou-se modelo em excelência”, destacou.
Celia Parnes trouxe o relato sobre a sua família. “Uma comunidade que não fala a língua busca alguém que veio antes e que fale o seu idioma”. Destacou a questão da justiça social, como um legado da comunidade. “Daí o porquê de a comunidade judaica ajudar outras comunidades em vulnerabilidade. Um exemplo é a Unibes, que reúne sete organizações que ajudam, desde 1915, judeus e não judeus. A Unibes hoje atende mais de 15 mil famílias só no estado de São Paulo e também desenvolveu uma frente de cultura, como fonte de desenvolvimento social. E esse é importante legado para toda a sociedade brasileira. Somos pouco mais de cem mil numa população de mais de 240 milhões de habitantes. Mas aqui nos sentimos, fortes, protegidos”.
Celia chamou Ricardo Berkiensztat, que completou: “As comunidades judaicas quando se instalam em outros países costumam construir uma sinagoga, um hospital e uma associação de assistência. Em São Paulo temos mais de 100 entidades cadastradas, 14 escolas e 60 sinagogas numa população de 60 mil pessoas no estado. Para nós é muito importante trabalhar com om poder público e, nisso, a comunidade faz questão de ser parceira, como forma de ajudar os mais necessitados. Citou como exemplo a tragedia em São Sebastião, em SP, e, mais recentemente no RS. “Está no nosso DNA ajudar, abraçar r ajudar os mais necessitados”.
Sergio Napchan encerrou o seminário, citando o importante papel da CONIB como representante da comunidade judaica. Destacou a parceria com as federações e com outras entidades judaicas do País. “A CONIB por muitos anos atuou de forma discreta e nos últimos 20 anos a instituição passou a ter um protagonismo maior no debate público na sociedade brasileira. A comunidade já atuava em ações, mas faltava um engajamento maior. Hoje a CONIB participa de eventos importantes representativos da sociedade, como “amicus curiae”, em que atuou no último dia 27 no Supremo Tribunal Federal (STF) no julgamento dos processos que discutem a constitucionalidade do Marco Civil da Internet”. Citou o caso Elwanger, no RG do Sul, “que foi o disparador de uma série de leis contra o racismo”. Registrou a presença de representantes da Acib (Associação Cultural Israelita de Brasília) no evento e a importante atuação dessa instituição como representante da CONIB em muitos momentos importantes.
“Agradeço a presença de todos em nome da CONIB. Este é um primeiro seminário, pretendemos fazer outros, mas do ponto de vista de conteúdo há uma profundidade muito maior de conhecimento a ser abordada e há muitas pessoas que deram grande contribuição à sociedade brasileira”.