A Câmara de Vereadores de Piracicaba realizou de mais uma edição da solenidade alusiva ao Dia Municipal da Lembrança, que tenta sensibilizar as futuras gerações sobre os horrores da Segunda Guerra Mundial, tendo como foco o Holocausto, extermínio em massa de judeus ocorrido na década de 1940 pelo Exército de Adolf Hitler em campos de concentração.
Os cerca de 200 alunos da Escola Estadual “Professor Abigail de Azevedo Grillo” e do Sesi 085 de Piracicaba acompanharam a exibição do Filme O Holocausto, com cenas fortes do massacre. E na abertura da solenidade foram acesas velas, em homenagem aos 6 milhões de judeus mortos no massacre.
Henry Gherson, assessor executivo da Federação Israelita de São Paulo falou da emoção em verificar a a continuidade do trabalho iniciado por Jayme Rosenthal em Piracicaba, que incentiva os jovens a conhecerem um pouco da história sobre o Holocausto, para que experiências como estas a humanidade nunca mais possa verificar. “O Holocausto foi uma lição para todos nós”, afirmou.
O representante da comunidade israelita de Piracicaba, Marcelo Rosenthal também reforçou a importância dos jovens conhecerem um pouco do que foi o Holocausto e, que este processo sirva de lição para que as futuras gerações não deixem de se levar por falsos líderes e, suas ideologias, que levam o homem à destruição.
O sobrevivente, Thomas Venetianer, da Eslováquia e que hoje se orgulha de ser brasileiro contou a história de um casal que para tentar proteger o único filho ficou disposto a morrer e, foi salvo milagrosamente quando não foi percebido por uma escolta de soldados da SS que rondavam as imediações de uma estação de trem, sendo que na sequencia o casal tirou a criança do esconderijo – um tipo de fornalha – para seguir rota de fuga até as montanhas.
Imagens e números ainda pesam na memória de Thomas, de 79 anos, o filho do casal que ele contou na história.
Imagens como a do cano do revólver apontado em sua testa, quando, ainda criança e escondido sob fardos de feno na carroceria de um veículo que tentava escapar do cerco do exército nazista, viu sua família ser barrada por um dos seguidores de Adolf Hitler.
Números como os 19 parentes que ele perdeu nos seis anos em que o regime sanguinário do ditador alemão dizimou seis milhões de vidas, entre judeus, negros, pessoas com deficiência e outras parcelas da população europeia tidas como minorias.
Mas são os quatro “medos” que Thomas ainda carrega ––medo da fome, medo do frio, medo de homens de farda e medo da solidão–– que mais emocionam em seu relato sobre o período em que ele, judeu nascido em 1937 na antiga Tchecoslováquia, foi perseguido pelos nazistas.
–– O que uma criança de 7 anos é capaz de lembrar? Eu me lembro de algumas coisas, sim, alías, muito vivamente. Em primeiro lugar, fome. Porque o que se servia não era suficiente nem de qualidade para alimentar uma criança em fase de crescimento. Eu sentia frio. Até hoje eu sou extremamente friorento, isso deve ter penetrado geneticamente em mim, porque eu tenho horror ao frio. Não estou exagerando, eu tenho medo do frio.
–– Eu tinha um medo terrível quando eu via um guarda e levei anos para superar esse medo aqui no Brasil. Eu via um guarda e alguma coisa dentro de mim imediatamente mexia, porque eu tinha um referencial de que guarda era perigo. E, por fim, por minha mãe trabalhar [no campo de concentração] e eu vê-la raras vezes, eu sentia solidão. Não sei se isso penetra de alguma forma na pessoa, mas eu fui, até casar, um jovem solitário. Não tinha amigos na escola; eu era sozinho, junto com meus pais.
Thomas descreveu como foi sua infância a duas centenas de jovens que lotaram o salão nobre da Câmara para participar, na manhã desta quinta-feira (28), da solenidade pelo Dia Municipal da Lembrança. A cerimônia em memória às vítimas do holocausto é uma iniciativa do vereador João Manoel dos Santos (PTB) ––que, ausente por motivo de saúde, foi representado pelo colega Luiz Arruda (PTB).
O sobrevivente do massacre ocorrido entre 1939 e 1945, durante a Segunda Guerra Mundial, contou não se considerar “herói” por estar vivo, mas, sim, alguém agraciado por um milagre. Thomas elogiou a acolhida que ele e a parte da sua família que resistiu aos comandados de Hitler receberam ao chegarem ao Brasil, há 68 anos.
–– Aqui somos felizes porque o brasileiro é um povo extremamente cordial, amigável e tolerante. Tenho orgulho de ser um de vocês.