Três homens acusados de associação com a ideologia neonazista foram condenados nesta quarta-feira (19) por tentativa de homicídio triplamente qualificado, em um ataque contra três jovens judeus, ocorrido em 2005, em Porto Alegre. “Apesar da longa tramitação do processo até que tivéssemos uma decisão, ao condenar os acusados a Justiça manda uma mensagem clara: crimes de motivação racista ou antissemita devem ser duramente combatidos e repreendidos. Não há lugar para ideologias supremacistas em um país democrático como o Brasil”, disse o presidente da Conib, Fernando Lottenberg.
O presidente da Federação Israelita do Rio Grande do Sul, Zalmir Chwartzmann, disse que as vítimas estão traumatizadas – por medo, dois deles preferiram não comparecer ao julgamento dos réus. “O sentimento que fica é de alívio, porque a justiça foi feita. E a lição que tiramos é a de que as pessoas precisam de limites para viver em sociedade, porque é muito triste ver jovens inocentes serem agredidos apenas por serem judeus. O mundo precisa aprender a conviver com tolerância”, destacou Chwartzmann. Em nota, a Federação Israelita do Rio Grande do Sul, disse que “a justiça foi feita”. “O julgamento de hoje entra para a história da Justiça brasileira, não só para a comunidade judaica, mas para toda sociedade, que precisa combater o ódio e o discurso de ódio dos radicais”, afirmou o presidente da entidade, Zalmir Chwartzmann.
O julgamento e condenação dos réus foi destaque nos jornais Folha de S.Paulo, O Estado de S.Paulo e Zero Hora. A JTA (Jewish Telegraphic Agency) publicou em seu twitter “Skinheads brasileiros cometeram um crime de ódio antissemita há 13 anos. Finalmente, a justiça foi feita e um precedente foi estabelecido contra o extremismo violento no Brasil.”
Na ação, as vítimas, identificadas como Rodrigo Fontella Matheus, Edson Nieves Santanna e Alan Floyd Gipsztejn, usavam quipás, quando foram brutalmente agredidas com socos, pontapés e facadas por um grupo de skinheads que estava dentro do bar. Uma das qualificadoras do crime foi motivo torpe por discriminação contra a religião das vítimas: o judaísmo. Ainda cabe recurso. Os réus Laureano Vieira Toscani e Thiago Araújo da Silva foram condenados a 13 anos de prisão em regime fechado. O terceiro acusado, Fábio Roberto Sturm, a 12 anos e oito meses. Thiago e Fábio poderão recorrer em liberdade. Já Toscani responderá preso por ter viajado ao exterior sem comunicar à juíza do caso. O júri popular que condenou os réus, na 2ª Vara de Porto Alegre, durou dois dias, totalizando cerca de 22 horas de sessão. Na terça-feira, o tribunal ouviu vítimas, os três réus e testemunhas. Uma das vítimas preferiu não comparecer porque havia encontrado um dos acusados em um shopping da cidade. A acusação exibiu uma bandeira com a suástica nazista, livros de teoria de supremacia branca, entre outros materiais de cunho neonazista, encontrados nas casas dos acusados. Na quarta, o júri ouviu novamente advogados de defesa e a Promotoria.
Uma reportagem da Folha de 2017 lembrou que o julgamento, previsto para ocorrer em 2013, seguia sem data. Inicialmente, o Ministério Público denunciou 14 pessoas pelo crime. O processo acabou sendo cindido, parte dos crimes prescreveu, outros foram arquivados. Além dos três réus condenados nesta terça, seis pessoas ainda devem ir a julgamento pelo caso. O próximo júri está marcado para o dia 22 de novembro. O ataque aos três jovens judeus ocorreu numa noite de sábado, 8 de maio de 2005, nas esquinas das ruas República e Lima Silva, na Cidade Baixa, bairro boêmio da capital gaúcha. Eles foram agredidos com pontapés e socos. Um deles levou uma facada no abdômen, o que configurou a tentativa de homicídio.
Os agressores, homens e mulheres, tinham idades entre 15 e 30 anos, alguns usavam cabeças raspadas e vestiam coturnos com cadarços brancos, marca associada a skinheads racistas. De acordo com relatos, um dos membros teria apontado para um dos jovens usando quipá e dito: “tem judeu lá”. A data marcava 60 anos do fim da Segunda Guerra Mundial na Alemanha, quando o país se rendeu.