Foi com muita surpresa e apreensão que lemos a reportagem “Um muro no caminho de Maria”, publicada na edição da Folha do dia 25 de dezembro, no caderno “Mundo”.
O texto, estranhamente, mesclou relatos da Bíblia com questões políticas contemporâneas. E, como se não bastasse tal mistura explosiva, pecou por não ouvir o outro lado, pilar básico do jornalismo praticado por esta empresa de comunicação.
A reportagem, superficial e baseada em comparações sem sentido, não explicou ao leitor o motivo da existência de barreiras e de bloqueios na conflagrada região. Optou por criticar Israel, sem dar o devido direito à defesa, exatamente em um dos dias mais sagrados para o cristianismo, o Natal.
Passado o impacto inicial, tentamos entender tal iniciativa num jornal que aprendi a respeitar e admirar desde o primeiro dia em que cheguei ao Brasil. Com o espaço agora oferecido, reforço meu respeito por um diário que apresenta a admirável qualidade de acolher as críticas.
Como é amplamente sabido, liberdade –seja de expressão, seja de religião– é um bem escasso no Oriente Médio. Israel, apesar da constante beligerância de vizinhos empenhados em destruí-lo, jamais abriu mão de construir uma sociedade democrática.
Vejamos, por exemplo, a situação dos cristãos. Representavam 20% da população do Oriente Médio até o início do século 20. Hoje, porém, representam apenas 5%. Fogem da repressão e da violência.
O único país na região onde a população cristã cresce regularmente é o Estado de Israel. Em 1980, lá viviam 90 mil cristãos. Atualmente, eles são mais de 155 mil.
Lembremos também que mais de 1,6 milhão de turistas visitaram em 2013 a cidade de Belém, na Cisjordânia, marcando um recorde para a cidade, e dezenas de milhares chegaram especificamente para comemorar o Natal.
Deve ser lembrado, ainda, que a construção de uma barreira defensiva (o chamado muro) entre Israel e a Cisjordânia foi decorrência dos múltiplos ataques terroristas perpetrados por facções palestinas contra a população civil de Israel e tiveram origem na margem ocidental do rio Jordão.
Entre 2000 e 2005, mais de mil israelenses foram assassinados durante a chamada Segunda Intifada, iniciativa tristemente baseada no terrorismo e na figura dos homens-bomba que se seguiu à recusa palestina em assinar um acordo de paz após as negociações de Camp David.
Depois da construção do muro, os atentados foram reduzidos em 100%, preservando o mais importante para todos os amantes da paz: as vidas humanas.
O governo de Israel cumpre a missão de proteger seus habitantes. Sem terrorismo, não precisaremos mais de muros e barreiras.
No próximo ano, desejamos que o voto do papa Francisco, proferido em seu discurso natalino, se torne uma realidade ao pedir a “conversão do coração dos violentos por um desfecho feliz das negociações de paz entre israelenses e palestinos”.
Feliz ano novo para o Oriente Médio e para todo o povo brasileiro.
RAFAEL ELDAD, 64, é embaixador de Israel no Brasil
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