No último domingo, 26, ocorreu, na Congregação Israelita Paulista (CIP), na Sinagoga Etz Chaim, o Ato Solene em Memória às Vítimas do Holocausto, marcando os 80 anos da libertação do Campo de Concentração de Auschwitz. O evento, realizado pela Federação Israelita do Estado de São Paulo, Confederação Israelita do Brasil (Conib), StandWithUs Brasil e a própria CIP, prestou tributo aos seis milhões de judeus vítimas do Holocausto e a todas as vítimas do regime nazista e contou com acendimento de seis velas por parte de sobreviventes, autoridades políticas, líderes religiosos, institucionais e jovens, além do acendimento de uma sétima vela, por Rafael Zimerman, brasileiro que sobreviveu ao ataque terrorista do Hamas, em memória às vítimas de 7 de outubro.

O evento, que se iniciou pontualmente às 18h, teve como mestre de cerimônia o presidente executivo da Federação Israelita do Estado de São Paulo Ricardo Berkiensztat, que, em sua fala, reforçou que “a memória ativa das vítimas e a educação acerca dos perigos do ódio e da intolerância são essenciais para impedir que tragédias semelhantes se repitam”.
Após o Hino Nacional do Brasil, entoado pelo chazan Ale Edelstein, foi a vez de Laura Feldman, presidente da CIP, realizar seu discurso, enfatizando a enorme onda de antissemitismo sempre presente na sociedade. “O genocídio de 6 milhões de judeus deveria ter ensinado ao mundo uma lição deifinitiva, mas o que vemos hoje na atual judeufobia são manifestações violentas antissemitas, nas camadas do antissionismo e do anti-israelismo”.

Laura ainda chamou ao palco André Sturm, diretor do Museu da Imagem e do Som (MIS), que realizou em 2024, a exposição “A tragédia do Holocausto: a vida de Julio Gartner”. Julio Gartner z´l, foi um sobrevivente polonês radicado no Brasil e que faria 101 anos. Também subiram Sandra Gartner Schulman e Paulo Gartner, filhos de Julio. Os três receberam uma homenagem. O advogado Daniel Bialski, também recebeu uma, por sua luta jurídica contra o antissemitismo, discurso de ódio, desinformação, difamações e ameças à soberania do Estado de Israel.

Marcos Knobel, presidente da Federação Israelita do Estado de São Paulo, fez seu discurso, destacando que nada se compara ao Holocausto. “Não deixaremos que ninguém se atreva a fazer comparações descabidas e ofensivas, principalmente visando afrontar a memória de nossos antepassados, de nossos queridos sobreviventes e da nossa comunidade como um todo”.
Em seguida, o jovem Otavio Cukierkorn apresentou o Salmo 121- SHIR LAMA’ ALOT, acompanhado pelos músicos Tania Frenkiel Travassos, Alexandre Travassos, Claudio Micheletti e Julio Ortiz.

Após a apresentação, foi acendida a primeira vela, representando, assim como as outras, um milhão de judeus exterminados. Para esse momento, foi chamado todo o corpo diplomático presente.
Rafael Erdreich, Cônsul de Israel em São Paulo, colocou, em seu discurso, que “o Holocausto ainda pode ocorrer hoje, basta que as sementes do mal sejam plantadas. Agora, mais de 15 meses depois do massacre de 7 de outubro, vemos, infelizmente, as mesmas sementes sendo plantadas”.

Em seguida, a segunda vela foi acendida, pelas lideranças comunitárias.
Claudio Lottenberg, presidente da Conib, em sua fala, também destacou que “estamos assistindo a uma das maiores crises de crescimento de antissemitismo.” Além disso, colocou que nós, judeus brasileiros, lutaremos como sempre lutamos, por uma sociedade mais justa e pautada pelo conhecimento, trabalhando por um Brasil de oportunidades, alinhado à democracia, e ao surgirem discursos de ódio, rastros de intolerância ou ataques de qualquer tipo, todo judeu brasileiro se sentirá atacado e estará preparado para resisitir.
Logo após Lottenberg discursar, a terceira e quarta velas foram acendidas pelos líderes religiosos presentes e as autoridades civis, em sequência.

O prefeito de São Paulo Ricardo Nunes reforçou seu apoio à comunidade judaica. “Contem sempre comigo. Vocês terão todos os dias uma pessoa ao lado de vocês e atuando para valorizar, reconhecer o trabalho da comunidade judaica.”

O governador de São Paulo Tarcísio de Freitas destacou todos os martírios sofridos pelos judeus ao longo dos séculos, chegando ao ataque de 7 de outubro de 2023, feito pelo Hamas, e agradeceu à comunidade judaica pelo que tem feito pela cidade. “Nunca vou deixar de citar que quando houve a tragédia de São Sebastião, os primeiros a atender as pessoas de lá, foram médicos judeus que estavam lá veraneando.”
Para o acendimento da quinta vela, foram chamados os jovens dos movimentos juvenis.
O rabino Ruben Sternschein falou, em seu discurso, sobre a cultura judaica, que preza sempre pela vida. “Escolha pela vida. Escolha por sua vida e por aqueles que estão à sua volta”. Ele conduziu o acendimento da sexta vela, pelos sobreviventes do Holocausto presentes. Em seguida, cada um deles recebeu, das mãos dos jovens, uma medalha de “escolhedor da vida”.

O rabino Theo Hotz rezou o Kadish dos Enlutados, em homenagem aos 6 milhões de judeus vítimas do Holocausto. Também foi mostrado em um telão o nome dos sobreviventes falecidos em 2024.

O rabino Natan Freller e o chazan Ale Edelstein comandaram a benção Shehecheyanu.
O sobrevivente do Holocausto Jorge Weiser, que vai completar 92 anos, contou um pouco de sua história. “Eu vim de uma família religiosa de classe média. Meus pais eram comerciantes, em Budapeste, na Hungria. Vivíamos uma vida tranquila até a chegada do nazismo. Em 1944, as famílias foram retiradas de suas casas e agrupadas em prédios destinados somente a judeus. Só podíamos sair entre 11h e 13h, com a estrela amarela na roupa, do lado esquerdo do peito. Quem desrespeitasse as normas, poderia ser preso ou até deportado. Em certo momento, tivemos que sair para sermos reagrupados em outros lugares. Minha mãe providenciou esconderijos para todos os filhos, para mim e para duas irmãs. Minhas irmãs foram para famílias cristãs que nos ajudaram e eu fui morar em um prédio protegido. Alguns países emitiram documentos para a proteção de judeus. Porém, até conseguirmos sair, mudamos diversas vezes de esconderijo. O que tínhamos para comer era pão seco e toucinho congelado na janela pelo frio intenso. Isso durou até a chegada do exército russo, quando as famílias foram libertadas”.
André Lajst, presidente da StandWithUs Brasil, reiterou a importância da educação acerca de Israel. “É nossa missão. Nosso dever. Em nossa geração, proteger e fortalecer a existência de Israel, não apenas como um dos eventos mais importantes e significativos da história judaica e do mundo livre, como um bastião de democracia e civilização, mas também como a única garantia de que o povo judeu terá no futuro, quando nós não estivermos mais aqui, um lar nacional e um porto seguro.”
Para o acendimento da sétima vela, Rafael Zimerman, o soldado Patrick Holender, Maya Erdreich e Gili Vilian, vice-cônsul geral de Israel em São Paulo, foram chamados.
Rafael agradeceu aos sobreviventes do Holocausto por ensinarem a ele que temos que lutar para viver e sermos felizes.
O ato terminou com o Hatikvah, na voz do chazan Avi Burzstein.