No último domingo, 2, ocorreu, na Unibes Cultural, o “Bate-Papo: Somos Os Que Tiveram Sorte com Josef Kurc e Sarita Mucinic Sarue”. Josef Kurc é sobrevivente do Holocausto e membro da família retratada na série e no livro “Somos Os Que Tiveram Sorte”, enquanto Sarita é coordenadora de Educação e Cultura do Memorial do Holocausto de São Paulo. Os temas abordados na conversa, organizada pela própria Unibes Cultural, em parceria com o Memorial do Holocausto e Disney Plus, foram as experiências retratadas no livro e na série, a importância de preservar a memória do Holocausto para as novas gerações e como iniciativas culturais podem educar para a paz e a tolerância.
Sarita começou sua fala destacando que o trabalho feito com Josef era parte integrante do Memorial do Holocausto, que possui, em sua visão, um time de heróis que, assim como ele, apresentam muita boa vontade e força de vontade para conversar com estudantes, familiares de sobreviventes do Holocausto e interessados em geral, que diariamente, visitam a instituição com o intuito de aprender. “E, aprender, na nossa meta do Memorial do Holocausto é aprender a cultura da paz.”
“E aprender que conservamos a memória não para chorarmos o tempo todo, como muitos de nós choramos com a série, mas sim fortalecer nossa identidade judaica, que nos possibilita combater sem armas e com muito amor e empatia, por meio da educação e da comunicação não agressiva, que constatamos diariamente desde que a Segunda Guerra Mundial acabou até os dias atuais, com a situação em Israel”, disse ela.
Em seguida, Josef contou um pouco da história de sua família, que conseguiu sobreviver ao Holocausto. “Nossa família saiu da Polônia e foi se escondendo em todos os lugares, de 1939 a 1945.”
“Conseguimos todos nos encontrar na Itália, em 1946. E fomos direto para o Brasil, esquecendo assim do passado e começando uma nova vida, pautadas nos valores judaicos: paz e família.”
Ele também colocou que todos os países devem ter troca, entendimento, amor pelas pessoas, alma e espírito, para que assim, haja harmonia e felicidade no mundo todo.
Sarita relembrou que o evento estava ocorrendo em conexão com o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto e os 80 anos da libertação do campo de concentração de Auschwitz, e perguntou a Josef sobre o silêncio da família em relação aos eventos trágicos.
“Eu acho que todos sofreram muito durante muitos anos. Meus pais nunca conversaram sobre o que havia acontecido nem como conseguiram sobreviver. Nunca ninguém falou comigo sobre isso. Até minha sobrinha [Georgia Hunter, autora do livro Somos Os Que Tiveram Sorte] começar a se interessar e ter uma estratégia para falar com cada membro da família”, disse ele.
“Os países devem aprender a se comunicar, se entrosar e se compreender, através da alma, espírito, conhecimento e paz, de modo que o que aconteceu no Holocausto jamais ocorra novamente”, Josef reforçou em sua mensagem final.
Ele acrescentou que ficou muito sensibilizado com a maneira como sua história foi retratada e que vive uma vida muito feliz no Brasil.
Hoje ele é casado, tem quatro filhos e duas netas e se formou em Economia.

“Organizar um evento como esse, tendo um sobrevivente do Holocausto que tem livro e seriado, foi uma emoção muito grande, porque você consegue conectar a imaginação à realidade. De repente, aquilo que você ficou imaginando… é uma pessoa que fica em São Paulo e que você pode conversar com ela”, afirmou Sarita.
“Achei maravilhoso não só minha pessoa mas a história da minha família, da minha religião, da minha humanidade, do Brasil e do mundo todo que precisa se juntar, se relacionar, ter amor um pelo outro e todos ficarem felizes. O maior esforço que cada um tem que fazer em qualquer língua, em qualquer religião. Só isso! Essa é a essência da vida que nós temos de buscar, todo mundo, em qualquer parte do mundo”, comentou Josef.
Josef Kurc nasceu em um campo de trabalhos forçados na Sibéria. A família morava em Radom, na Polônia, quando os nazistas ocuparam o território. Seus pais estavam na cidade de Lvov, fugindo do início da perseguição nazista, quando foram capturados e levados para trabalhos forçados. A infância de Josef Kurc foi atravessada pela guerra. Levou anos para que o sobrevivente do Holocausto pudesse conhecer seus tios e avós que também sobreviveram. Ao final da Segunda Guerra Mundial, no Brasil, a família se reencontrou e deixou o passado para trás. Josef Kurc vive em São Paulo atualmente.
Sarita Mucinic Sarue formou-se em Pedagogia pela Universidade Mackenzie e concluiu o mestrado em Estudos Judaicos pela Universidade de São Paulo (FFLCH-USP). Com mais de trinta anos de experiência na área da educação, atualmente é coordenadora de Educação e Cultura do Memorial do Holocausto de São Paulo, membro do Conselho da Associação Janusz Korczak Brasil, voluntária da oficina de Cultura e Música Judaica e membro do Conselho do Grupo Chaverim. Realizou o curso de especialização na Escola Internacional de Estudos do Holocausto Yad Vashem, em Jerusalém. É escritora e especialista em Janusz Korczak, educador, médico e defensor dos direitos da criança, que fundou dois orfanatos-modelo em Varsóvia: Dom Sierot e Nasz Dom, conhecidos como a república democrática das crianças (1912-1942).
É autora dos livros Vozes de paz em tempos de guerra – Janusz Korczak diante da criança, do sionismo, do nazismo e Holocausto (FAPESP/Humanitas, 2015), Janusz Korczak – Uma vida em defesa da infância (Summus, 2022), finalista do Prêmio Jabuti, e Tijolos do Bem – Reflexões do Fundador da Cyrela/Elie Horn (Editora e Livraria Sêfer, 2024). Publicou diversos artigos sobre educação judaica e Holocausto, além de proferir palestras sobre esses temas.