Os adeptos do judaísmo comemoraram na noite de quinta-feira (30) os 100 anos da Sociedade Israelita Brasileira Beth Jacob de Campinas (SIBBJC) na tradicional sinagoga da Rua Barreto Leme, no Centro de Campinas.
A cerimônia foi presidida pelo rabino Jaime Rosenzweig, argentino de 62 anos, que há cinco está à frente do grupo. A ocasião solene teve direito a coquetel festivo e descerramento de placa comemorativa. Mas a festa não acabou.
Em novembro, o grupo vai cultivar cem árvores em bosques públicos, remetendo à memória das famílias que, em 1914, fundaram a associação. Hoje, os religiosos de origem judaica participam das celebrações semanais na sinagoga.
Os campineiros comuns — cristãos, basicamente — passam curiosos na frente do imóvel e ficam imaginando o que acontece lá dentro. E quem tem a chance de subir por aquelas escadas fica encantado com o que vê.
O elegante púlpito do rabino fica diante do belíssimo bimah, um armário com parede de vidro, onde são guardados os pergaminhos com as escrituras sagradas. Cada peça é protegida por um manto decorado. A parede é decorada com o menorah, castiçal de sete braços que também é um símbolo sagrado para os judeus.
A cultura judaica, secular, é cultuada por cada membro da sociedade, que se acomoda nas poltronas vestindo o quipá na cabeça, símbolo do reconhecimento da superioridade divina sobre o ser humano. Também se usa o talit, xale especial para momentos litúrgios. Mulheres usam véus. Todas as peças representam a submissão das criaturas diante do Criador.
A imagem clássica do judeu ortodoxo, senhores de idade vestindo o solidéu, mudou bastante com o tempo. Hoje, metade das poltronas do templo são tomadas por jovens. Já existe por ali até uma escola litúrgica para crianças, formando os novos judeus. A modernidadade, no entanto, não implica no fim das tradições.
No saguão de entrada da sinagoga, por exemplo, existe um belíssimo monumento em pedra, decorado com a Estrela de Davi, gravada com uma frase em hebraico. É homenagem aos 6 milhões de judeus mortos no Holocausto.
Ao redor do mármore, há placas em bronze com o nome de membros da sociedade israelita que também já partiram desta vida. Há painéis com fotos de lugares como o sagrado Muro das Lamentações e sinagogas de Israel.
Os judeus campineiros também preservam o mesmo empenho dos fundadores, que se cotizaram para fundar a sociedade.
Hoje, todos os custos são partilhados pelas 130 famílias associadas. Elas assumem as despesas de manutenção, por exemplo, do prédio com 1,7 mil metros quadrados construídos, em três pisos. Também é doação de judeu o terreno amplo nos fundos da sinagoga, onde funciona um estacionamento.
Para o tesoureiro do grupo, David Marcel Levy, a associação faz planos para os próximos anos, como inaugurar uma nova sinagoga, em ponto da cidade onde as condições de acessibilidade sejam melhores. A falta de vagas para estacionar carros, a insegurança e o trânsito confuso da Barreto Leme incomodam muito.
Ainda não se faz projeção sobre quando vai acontecer a mudança, quanto vai custar e onde vai ser a nova sede. Mas ninguém tem pressa. É certo que a comunidade judaica, discreta, estará mobilizada, como sempre.
Pouca gente sabe, aliás, que os judeus mantém ações sociais importantes, que garantem a asssitência a carentes do Brasil inteiro. Há campineiros, inclusive, que mantém na Capital creches e salas de reforço escolar para crianças que chegam de famílias seguidoras de qualquer religião.
“O amor a Deus e os esforços humanitários não podem se limitar a seitas, grupos, segmentos”, fala o rabino.
Rosenzweig guia a reportagem pelo imóvel e mostra, orgulhoso, a fotografia da visita de d. Airton José dos Santos, arcebipso católico que falou aos judeus, em uma cerimônia inesquecível, no primeiro semestre.
“É importante que todas as lideranças religiosas estejam unidas na oração, na construção de um mundo onde todos temem a Deus e respeitam os semelhantes”, fala.
Fonte: Grupo RAC