Cursinho Intergraus diz que vai revisar apostila anti-Israel

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Alertado pela Conib e pela Fisesp sobre texto altamente tendencioso contra Israel em uma apostila de geografia, o cursinho Intergraus enviou mensagem à Conib, em que agradece o esclarecimento pelos problemas no texto.

Na apostila, o cursinho pede aos alunos que avaliem trecho de um livro do historiador Isaac Akcelrud, escrito em 1984.

O autor afirma que em Israel, após a Guerra dos Seis Dias, “cresce o tumor fascista (…) que desemboca num racismo tipo apartheid”.

O trecho em questão ignora o contexto, os antecedentes e os desdobramentos da Guerra dos Seis Dias. Além disso, como o cursinho escolheu um texto de 33 anos atrás, omite acontecimentos posteriores que são fundamentais para a compreensão da história do conflito.

“Em primeiro lugar gostaríamos de agradecer o alerta pertinente e oportuno”, destacou a direção do cursinho, em nota enviada à Conib.

“De fato, a desatualização e parcialidade das citações não refletem a proposta pedagógica do Intergraus, nem a orientação dada aos autores de nosso material didático. O professor responsável já foi notificado, e nova versão dos textos está sendo preparada para a edição de 2018, por uma equipe distinta”, prossegue a nota.

“Esperamos que qualquer desconforto que haja surgido por conta desse incidente não desqualifique o excelente relacionamento, que já se estende por 37 anos, entre a comunidade israelita de São Paulo e o Intergraus”, conclui a nota.

Leia abaixo a análise enviada por Conib e Fisesp ao cursinho:

– Omissões injustificáveis no texto

É sintomático que, no material do Intergraus:

1) não sejam apresentadas versões de outros historiadores – apenas a visão típica de um militante da extrema esquerda sobre Israel;
2) seja usada como referência, em 2017, uma obra muito anterior a acontecimentos fundamentais para a compreensão da história do conflito, tais como:

a) os acordos de Oslo (1993)
b) as duas recusas palestinas a um acordo de paz: em 2000-2001, com Arafat, e em 2008, com Abbas
c) a retirada unilateral de Israel de Gaza, em 2005
d) a guerra civil entre Fatah e Hamas, em 2007, que deixou mais de 600 mortos, com a expulsão do Fatah de Gaza
e) as três guerras lançadas pelo Hamas, em 2008, 2012 e 2014

– A “desesperada” militarização da OLP

O texto ignora que havia incursões de comandos palestinos desde a criação de Israel. Elas aumentaram após a criação, em 1964, da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), principalmente a partir dos territórios jordaniano e sírio, e tornaram-se cada vez mais frequentes.

Não custa lembrar que os hoje chamados territórios ocupados eram antes de 1967 ocupados por Jordânia e Egito. Cabe a pergunta: qual “Palestina” a OLP queria libertar em 1964?

Além disso, quando surgiu, em uma conferência da Liga Árabe em Alexandria, a OLP era efetivamente controlada pelos países árabes, especialmente o Egito de Nasser.

Os palestinos só passariam a tomar conta da organização depois que a facção Fatah, de Yasser Arafat, a tirou das mãos dos palestinos apoiados por Nasser, após a derrota deste na Guerra dos Seis Dias.

O “desespero” palestino evocado por Akcelrud se deu por conta da incapacidade de destruir Israel. Um “desespero” intrínseco à postura de recusar a existência de um Estado judeu em parte do território da Palestina e que não pode de maneira nenhuma ser considerado “consequência” da Guerra dos Seis Dias – pois é muito anterior a ela.

O autor “esquece” que os palestinos já haviam recusado não apenas a Partilha da Palestina pela ONU, em 1947, como também a proposta da Comissão Peel britânica, em 1937, de distribuir 80% do território da Palestina sob o Mandato Britânico aos árabes.

– “Contaminação colonialista” e “fanatismo religioso”

O texto ignora também que a Guerra dos Seis Dias, em junho de 1967, foi uma guerra de defesa contra Egito, Síria e Jordânia – e não uma guerra “colonialista” contra os palestinos.

É importante notar que, já em agosto de 1967, reunidos na cúpula de Cartum (Sudão), os países árabes adotaram uma postura política que ficou conhecida como a dos “três nãos”: “Não à paz com Israel; não às negociações com Israel; não ao reconhecimento de Israel”.

Assim, como trocar paz por território, se não havia qualquer interesse na paz pelo lado árabe?

Somente após os Acordos de Oslo, essa perspectiva começou a mudar, mas não o suficiente para se chegar a um acordo de paz definitivo.

Em 2005, Israel saiu unilateralmente de Gaza – onde está a “contaminação colonialista”?-, retirando à força 8.000 colonos e mostrando que não estava no território por “fanatismo religioso”.

O bloqueio a Gaza foi imposto somente em 2007, depois que o Hamas expulsou o Fatah, como mencionado acima. É sempre bom lembrar que o Egito também bloqueia Gaza.

Em 2008, Abbas recusou acordo de paz proposto pelo então primeiro-ministro Ehud Olmert, que incluía a divisão de Jerusalém – onde está o “fanatismo religioso”? – e o estabelecimento de um Estado palestino, em 93,7% da Cisjordânia e 100% de Gaza, com uma troca de terras para compensar os 6,3% Cisjordânia que ficariam com Israel.

Não haverá paz enquanto a segurança de Israel não estiver garantida – e não por “colonialismo” ou “fanatismo”.

– Suposta “avidez da burguesia” não faz sentido economicamente

A manutenção da ocupação na Cisjordânia, causada pela ausência de um acordo de paz, é muito cara para Israel, pois prejudica o crescimento econômico e dificulta a capacidade do Estado de investir no desenvolvimento da periferia, melhorar os serviços educacionais e aumentar o padrão de vida de todos os israelenses. Os confrontos periódicos exigem um investimento militar substancial e grandes gastos em cada confronto.

– “Corrupção dos movimentos operários e kibutziano”

Este é um dos trechos mais datados do livro de Akcelrud. A economia israelense hoje é altamente baseada em alta tecnologia, os kibutzim são automatizados e cerca de 92% dos israelenses vivem em áreas urbanas. Em 2016, os serviços representavam 69% do PIB.

– “Apartheid”

Acusação propagandística.

Os árabes são cerca de 20% da população israelense – artistas, estudantes universitários, médicos, engenheiros, jogadores de futebol, âncoras de TV, ministros na Suprema Corte. A Lista Árabe é o terceiro partido no Parlamento.

Em 2015, De Klerk, ex-presidente da África do Sul, afirmou que é “odioso” comparar Israel ao regime de apartheid que houve no país africano. “Palestinos vivem em Israel com plenos direitos políticos, e não há leis discriminatórias contra eles”, disse ao site Times of Israel.