Em uma jornada que começou às 11h e só terminou às 19h deste domingo, dia 28, na Hebraica de São Paulo, mais de 500 pessoas dedicaram o dia a discutir a imagem do judeu na mídia e na sociedade brasileira e formas de atuação da comunidade judaica na internet, nas redes sociais e na mídia tradicional, além de debater a votação na ONU, em setembro, por um Estado palestino.
Uma movimentada oficina de Twitter, coordenada José Luiz Goldfarb, da Cátedra de Cultura Judaica da PUC-SP, funcionou simultaneamente aos debates, informando os principais pontos em discussão à rede social e trazendo em tempo real a opinião dos internautas.
O evento, intitulado “Desatando Nós”, foi promovido pela Confederação Israelita do Brasil (Conib), em parceria com a Federação Israelita do Estado de São Paulo (Fisesp) e a Hebraica. Vieram à capital paulista representantes das comunidades judaicas de Amapá, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Minas Gerais, Pará, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Santa Catarina.
Fernando Lottenberg, secretário-geral da Conib, convoca os jovens da comunidade para participar com ainda mais força dos próximos eventos, pois os debates “têm a ver com o presente e futuro deles”. Para ele, os debatedores se mostraram muito bem preparados e, muito importante, capazes de tratar os temas de maneira informal, o que atrai os jovens. Ele considerou que a oficina de Twitter é um primeiro e ótimo passo para o uso de mecanismos virtuais de divulgação, em eventos futuros.
Para Alberto Milkewitz, diretor institucional da Fisesp, “os números do evento foram excelentes; e os debates, de muito bom nível e questionadores, com perspectivas que nem sempre circulam nos eventos comunitários”. Pensando nos próximos eventos, ele considera que “a linha de discussão sobre a construção da identidade judaica ainda não esgotou o tema”.
No primeiro painel de debates, sobre formas de atuação na internet, os advogados Octavio Aronis (mediador) e Fernando Rosenthal lembraram o histórico de lutas da comunidade judaica contra os crimes raciais e, já na era da internet, destacaram experiências bem-sucedidas da Confederação Israelita do Brasil e da Federação Israelita do Estado de São Paulo no combate a esses crimes.
O jornalista Renato Aizenman, do Projeto Israel na Web, fez uma detalhada exposição das características das diversas plataformas da web e mostrou a importância de cada internauta na divulgação e irradiação de conteúdo, o que pode ser feito mesmo que se tenha pouco conhecimento ou habilidade com a tecnologia. Ilan Sztulman, cônsul-geral de Israel em São Paulo, elogiou o trabalho do Israel na Web e ressaltou que esta atividade deve ser feita por profissionais.
No segundo painel, que abordou o funcionamento da mídia tradicional, foram destacados os seus pontos fortes – como a interpretação articulada – em comparação com a eletrônica. Os participantes, jornalistas Bruno Thys (mediador), Ivone Happ, Carlos Brickmann, Marcos Guterman concordaram que a grande imprensa brasileira trata o conflito do Oriente Médio sem parcialidade.
Recebidos com grande expectativa para o debate sobre a imagem do judeu no Brasil, o autor de telenovelas Walcyr Carrasco e a atriz Ana Lúcia Torre (a ‘iídiche mame’ da novela “Caras e Bocas”) mostraram grande satisfação em participar do painel, que também teve a participação do economista Gustavo Ioschpe. A mediação foi do jornalista Sergio Malbergier.
Walcyr contou detalhes da elaboração da trama da novela, informou que “Caras e Bocas” faz sucesso também no exterior e revelou seu choque pela agressividade latente contra os judeus revelada no recente episódio do metrô no bairro de Higienópolis, em São Paulo. A atriz confidenciou que seu papel na novela foi uma “experiência intensa” de judaísmo e elogiou a prioridade dada pelos judeus à educação. Ambos falaram de suas boas relações com amigos judeus. Ioschpe, especialista em educação, revelou que um jovem rabino em Porto Alegre o despertou para a espiritualidade judaica. Ele considera que sua escolha profissional está ligada ao apreço dos judeus pela educação.
O quarto e último painel, que também superlotou o Espaço Adolpho Bloch, na Hebraica, trouxe os jornalistas Roberto Simon, repórter da editoria de Internacional do Estadão; David Tabacof, correspondente da revista Shalom em Israel; Michel Gherman, antropólogo do Núcleo de Estudos Judaicos da UFRJ, com mediação do jornalista Jaime Spitzcovsky, diretor de Relações Institucionais da Conib. Lembrando que os Acordos de Oslo previam uma solução bilateral do conflito, Simon afirmou que a votação na Assembleia Geral da ONU, em setembro, por um Estado palestino, é uma estratégia bem pensada de pressão adicional sobre Israel. Gherman recordou que a criação de um Estado palestino sempre foi bandeira do movimento sionista. Já Tabacof observou que o Irã e as recentes reivindicações sociais são também questões prementes para os israelenses.
Fonte: CONIB