O presidente da Federação, Mário Fleck, particiou essa semana, no Ministério das Relações Exteriores em Brasília, da série de debates sobre a política externa brasileira intitulados “Diálogos sobre Política Externa”.
Leia o discurso.
Inicialmente eu gostaria de agradecer o convite e parabenizar o Ministério das relações Exteriores do Brasil pela iniciativa em ouvir a sociedade brasileira e buscar reflexões sobre a politica externa de nosso país.
O Brasil por suas dimensões e realizações é hoje uma nação estratégica no cenário geo – político internacional e tem potencial para exercer um papel relevante, dadas também suas raízes históricas de atitudes pacíficas e reconciliatórias na cena global.
Infelizmente, apesar de todos os progressos do ser humano, vivemos ainda tempos de guerras, perseguições, desentendimentos, desrespeito à liberdade e aos direitos humanos em muitos sítios pelo mundo. Em nosso entendimento, isto é um fenômeno decorrente da falta de respeito e de aceitação da diversidade, e da intolerância para com as diferenças de pensamento e posicionamento entre nações e povos.
Esta constatação tem particular destaque na região do Oriente Médio, aonde diferenças tribais pouco consideradas por ocasião da demarcação de fronteiras após as guerras mundiais do século passado, criaram países fictícios e originaram conflitos mal equacionados até o dia de hoje.
Por nossa origem judaica, acompanhamos de perto e com muito apreço os acontecimentos que levaram à criação do Estado de Israel em 1948 e desde então, nos sentimos orgulhosos pela contribuição desta nação, para o bem da humanidade e para o seu desenvolvimento – fatos decorrentes de sua ampla capacidade de pesquisa científica e de desenvolvimento tecnológico.
Por sermos brasileiros, nos preocupa em demasia, o posicionamento de nossa politica externa no palco das Nações Unidas, quase de modo permanente em oposição e condenação contumaz ao Estado de Israel.
Não entendemos como uma nação democrática como a nossa, esteja alinhada na sua posição externa com nações que atribuem tão baixos valores à democracia e aos direitos humanos.
A carnificina que ocorre nos últimos três anos na Síria, o absoluto desrespeito à liberdade e aos direitos humanos que ocorre no Iran, são apenas exemplos deste desalinhamento que estamos falando.
Por coincidência ou não, estes são países em permanente estado de violação da Carta das Nações e que não recebem um voto sequer brasileiro de condenação por suas práticas de intolerância, pela ausência de instituições de justiça e pela preservação da liberdade e dos direitos humanos.
Por outro lado, entendemos que na relação do Brasil com Israel, inúmeros benefícios poderiam ser potencializados nos campos aonde Israel tem força como a inovação tecnológica e o Brasil tem necessidades e oportunidades por suas dimensões continentais.
Entendemos que o Brasil tem sim o direito de demandar um papel mais estrategicamente relevante na cena mundial, e o Oriente Médio carece de intermediários com credibilidade e capacidade de articulação politica para colaborar na busca de soluções para conflitos complexos e de origem histórica milenar.
Por outro lado, consideramos que para alcançar tal prestigio entre as nações, é necessário ao Brasil, rever com profundidade seu entendimento das narrativas conflitantes que dão origem e andamento às divergências entre Israel e seus detratores.
Também, não podemos perder esta oportunidade para sublinhar, que na preparação para o exercício de um papel relevante na cena geo politica internacional e no tratamento de conflitos complexos e distantes, nosso país não pode ser omisso nas questões da mesma natureza, mas muito menos complexas e muito mais próximas como a própria situação de países da América do Sul como é o caso da Venezuela cuja democracia caminha para o fundo do poço e cujo povo dividido tem ao menos em significativa parcela de sua população um olhar de perplexidade para com o silêncio do Brasil em momentos tão duros.
Para encerrar novamente agradecemos esta oportunidade e afirmamos uma expectativa muito grande de que esta série de diálogos tenha desdobramentos e consequências praticas na busca de nosso Brasil por um aperfeiçoamento de suas políticas internacionais.