Por Zeev Sternhell – HAARETZ

Nestes tempos de esperança e expectativas, é difícil não se perguntar que forma os protestos poderiam ter tomado, e que resultados poderiam já ter alcançado, se tivesse havido um grande e autêntico Partido Social-Democrata aqui com um Sindicato digno do nome, ao seu lado. Na verdade um levante espontâneo que não encontre expressão política muito em breve, e não ameace aqueles que estão no poder, vai obrigatoriamente ter conquistas muito limitadas.

Mesmo o Primeiro-Ministro Benjamin Netanyahu entende que, quando não há uma oposição com uma ideologia de mudança social estrutural, e que seja capaz de angariar apoio eleitoral para um programa econômico nacional abrangente, o perigo que enfrenta ele e seu partido são insignificantes. A verdade é que os próprios manifestantes já o presentearam com uma saída. Seus representantes vão ungir os líderes do protesto com o óleo puro, vão criar equipes e apresentar idéias, lhes jogarão alguns “ossos” e depois se moverão para a área onde não há maior especialista que Netanyahu: ganhar tempo e fazer promessas que ninguém pretende manter.

O problema real, no entanto, não é o governo, mas sim a elite política. Exceto por um pequeno número de políticos do centro-esquerda, como a membro do Parlamento Shelly Yachimovich (Partido Trabalhista), a maior parte da liderança política é parceiro da crença cega nas qualidades únicas de um mercado livre. Têm tido de fato pessoas de fora da arena política que durante décadas sustentaram que um mercado livre não cria menos pobreza e miséria do que riqueza e bem-estar, tinha aqueles que acreditavam que a pobreza não é algum tipo de fenômeno natural, mas algo criado pelo homem. Mas todos eles foram considerados “populistas”. Tinham pessoas que enxergavam no Estado uma ferramenta para corrigir distorções e prestar serviços baratos e de boa qualidade para toda a população, mas eles foram denunciados como querendo voltar para a década de 1950.

Portanto, os jovens manifestantes fariam bem em lembrar Maio de 1968 na Europa. Além das diferenças óbvias, há um denominador comum: um protesto que não encontra expressão política imediata é destinado a se desintegrar.

Novas forças que não estavam envolvidas na política até agora poderiam desempenhar um papel fundamental. Eles poderiam quebrar o consenso neoliberal e ser a força motivadora por trás da criação de uma ampla frente de oposição que reúna todos aqueles que reconhecem a necessidade de abordar os males crônicos da sociedade israelense – e não apenas lidar com os cartéis do leite[1].

Uma frente deste tipo teria lugar para todos aqueles que fogem da “economia da compaixão” neoconservadora que é a base da aliança impura entre o Governo, a Federação de Trabalhadores Histadrut e pessoas com muito dinheiro.

Na verdade um protesto contra o obstruído horizonte social da classe média tem conexões com inúmeros outros problemas. A fim de criar uma sociedade mais igualitária apenas uma mudança é necessária no equilíbrio do poder político. Os manifestantes serão capazes de alcançar resultados substantivos apenas se ligando com todas as forças que se opõem ao atual governo, e não com os colonos, que são os seus pilares de apóio. Não vai ser suficiente demonstrar e marchar, especialmente desde que os manifestantes se cansarão muito tempo antes que os políticos e antes do Conselho Yesha[2] de assentamentos.

Portanto, após seu sucesso preliminar, eles terão de começar o processo de trabalho político cansativo de construção de uma força que possa competir nas próximas eleições. Os moradores das barracas podem ser capazes de fornecer parte da liderança e atualizar as linhas. A esperança que nasceu nas tendas da Avenida Rothschild não deve se limitar e expirar na discussão sobre as contas do IVA[3]. A menos que uma força ideológica e moral surja, que possa ser uma alternativa para a destrutividade do neo-liberalismo, a expectativa de vida deste bem-vindo protesto será tão longo quanto a duração do verão israelense.

Tradução do inglês para o português: Alberto Milkewitz


[1] Referência a luta contra os preços da Companhia israelense de laticínios, Tnuva  e aos conflitos provocados pelo aumento do queijo cottage de grande consumo em Israel. NT

[2] YESHA é um acrônimo para Judéia, Samaria, e Gaza. Este termo é um de vários utilizados como referência aos territórios ocupados por Israel após a Guerra dos Seis Dias. NT

[3] IVA Imposto ao Valor Adicional. NT