O jornalista Henrique Cymerman esteve em São Paulo na última semana e participou de dois importantes encontros com a comunidade judaica paulista.
Na manhã do último dia 07/06, em evento promovido pela Confederação Israelita do Brasil (CONIB), junto com a Federação Israelita do Estado de São Paulo (FISESP), Clube A Hebraica de São Paulo e a Câmara Brasil-Israel de Comércio e Indústria (BRIL Chamber), Cymerman falou sobre o seu livro “Conversando com o inimigo: Do Porto a Abu Dhabi via Tel Aviv”, deu detalhes sobre a cobertura que fez de acontecimentos importantes no Oriente Médio nas últimas cinco décadas e revelou que os Estados Unidos costuram um acordo inédito entre Israel e a Arábia Saudita, que abrirá um mundo novo de possibilidades para o Estado judeu com adesão de outras nações muçulmanas, como Indonésia e Malásia, países que, juntos com os sauditas, representarão um mercado maior que a União Europeia.
“Vivemos momentos históricos”, disse Cymerman, ao revelar que as negociações finais sobre esse acordo seriam o motivo pelo qual o presidente americano, Joe Biden, adiou para julho a viagem que pretendia fazer a Israel e nações árabes neste mês de junho.
Cymerman explicou a importância do acordo para Israel: “A Arábia Saudita, é o maior produtor de petróleo do mundo, tem uma população de maioria jovem – 70% tem menos de 30 anos – que anseia conhecer Tel Aviv, especialmente”. Pelo acordo que, segundo o jornalista seria uma espécie de OTAN do Oriente Médio, a Arábia Saudita abriria seu espaço aéreo a Israel para qualquer voo. Os EUA receberiam mais petróleo saudita, reduzindo, assim sua dependência internacional dificultada pela guerra entre Rússia e Ucrânia.
O jornalista citou a irritação de grupos radicais islâmicos com os Acordos de Abraão e com o fato de a questão palestina estar passando a segundo plano e deixando de ser prioridade para nações árabes. Exemplo disso, segundo ele, foi revelado numa conversa com um líder saudita em que este teria admitido que a situação mudou “porque agora temos um inimigo comum: o Irã”. O líder saudita teria explicado que, no caso de uma agressão iraniana, Israel teria condições militares de reagir e as nações árabes não. Isso explicaria também os recentes exercícios militares conjuntos, algo antes impensável. Para Cymerman há uma consciência dos países árabes em buscar uma solução para o conflito israelo-palestino através de negociações e fora de padrões exigidos, até porque o Hamas, que governa Gaza, não aceita Israel e reivindica como palestino todo o território israelense.
Há também o interesse de nações árabes na tecnologia israelense. Como nação das startups, Israel virou referência mundial e exporta tecnologia para muitos países.
Os Acordos de Abraão – assinados entre Israel, Emirados Árabes Unidos (EAU), Bahrein, Marrocos e Sudão – prosperaram em várias áreas. Recentemente, Israel assinou com os EAU um acordo inédito de livre comércio. Também na área da saúde os acordos prosperam. No início da pandemia de Covid-19 cerca de 40 médicos israelenses e de países árabes se reuniram via Zoom para trocar ideias e experiências sobre o avanço do vírus. Recentemente, outro encontro online reuniu 140 médicos de Israel e de nações árabes. Atualmente, segundo Cymerman, até mesmo o Qatar já busca uma aproximação com Israel. Turquia também segue essa tendência. Cymerman explica que anos atrás o presidente Recep Erdogan se reelegeu fazendo campanha contra Israel. Hoje, segundo ele, o presidente turco pretende defender uma aproximação com Israel em sua campanha para as eleições de 2023.
Irã, Hamas e Hezbollah são os grandes desafios de Israel. Sobre os 150 mil mísseis que o Hezbollah afirma ter apontados para Israel, Cymerman diz que essa organização não teria coragem de dar um primeiro passo nesse sentido. Isso porque Israel sabe muito sobre o Líbano e as estratégias militares do Hezbollah e essa organização, ao contrário, sabe muito pouco sobre o Estado judeu.
A noite, o correspondente internacional participou de outro evento, promovido Instituto Brasil-Israel, em parceria com a editora Talu Cultural e com a Unibes Cultural.
Em entrevista à jornalista Anita Efraim, Cymerman relembrou algumas histórias marcantes pelas quais passou ao longo da vida, como a última entrevista da vida de Itzhak Rabin, o encontro com o então vice-presidente da Síria e a relação de proximidade com o Papa Francisco.
“Eu tenho aquela sensação de que eu mudei a história da minha família. Quando eu anunciei aos meus pais que ficaria em Israel, eu fiz realmente uma coisa histórica. Hoje eu tenho três filhos em Israel, as próximas gerações provavelmente vão estar em Israel. E eu sinto muita responsabilidade sobre a Israel que vou deixar para as próximas gerações. E tudo que eu faço, incluindo este livro, é parte dessa tentativa de deixar um legado”, disse o jornalista.Cymerman recebe nesta semana, representado pela sua filha, o prêmio Shimon Peres deste ano.
A viagem de Cymerman ao Brasil é uma parceria do Instituto Brasil-Israel com a editora Talu Cultural, que publicou o seu livro.