Em recente visita ao Brasil, a convite da Conib e da Fisesp, o ativista ambiental norte americano Seth M. Siegel lançou seu livro “Faça-se a Água – A Solução de Israel para um Mundo com Sede de Água” (Editora Educ) e cumpriu extensa agenda de encontros com estudantes e especialistas.
Ele esteve na Sabesp, na PUC-SP, UFABC, Fundação Fernando Henrique Cardoso e gravou entrevista no programa Roda Viva, além de visitar entidades judaicas.
Em março de 2012, Siegel – advogado de formação – participou de uma conferência de um oficial de inteligência americano sobre a iminente crise global da água. No mês anterior, o Escritório do Diretor de Inteligência Nacional do governo dos EUA havia publicado um relatório com um título simples, mas de grandes proporções: “Segurança Global da Água”.
Usando dados de toda a comunidade de inteligência, o relatório apresentou uma imagem aterradora sobre redução da chuva, exaustão e degradação das águas subterrâneas, contaminação e desperdício contínuos da água. Tudo isso combinado ao grande aumento no uso, causando uma “tempestade perfeita” – e sem água.
Um conjunto de mapas fornecidos pelo National Intelligence Council mostra que, até 2025, partes do mundo cujo abastecimento de água será “severamente”, “extremamente” ou “excepcionalmente” afetado, incluem toda a metade ocidental dos Estados Unidos, uma faixa contínua do Egito ao Paquistão, toda a Índia e cerca de três quartos da China. Até 2025, bilhões de pessoas enfrentarão uma grave crise, se nada for feito.
Siegel então resolveu debruçar-se sobre o problema e – sem que o planejasse – tornou-se um especialista reconhecido mundialmente. Após muita pesquisa, ele concluiu: “Todas as soluções para estes problemas já foram inventadas, em Israel”. Além disso, o país “fornece água para os palestinos da Cisjordânia e Gaza e também para a Jordânia”.
Ele alertou, em debate na PUC-SP: “O problema da escassez da água é muito mais urgente que o das mudanças climáticas. Poderemos ter, em poucos anos, refugiados da água. É uma questão de segurança nacional. A mídia precisa dar mais destaque a isso!”
“Com o crescimento da população mundial e das classes médias, o consumo tende a crescer muito, também por causa da mudança nos hábitos alimentares. A produção de um quilo de bife requer 17 vezes mais água que a produção de um quilo de milho”, observou. “E a contaminação da água pode alterar nosso DNA”.
Para Siegel, um dos motivos do crescimento dos populistas e demagogos no cenário político mundial é que eles convencem as pessoas de que os governos falham em entregar serviços à população. “Cuidar bem da água pode melhorar a impressão sobre as democracias liberais. Os serviços têm que ser bem mantidos!”.
Israel
“Em Israel, as decisões são tomadas por técnicos”, alfinetou.
Não há subsídios para a água. Todos os custos são pagos pela população.
“Assim todos participam do processo de decisão”. E os pobres? “Pagam o que podem”.
E como tratar da poluição dos rios?
“O país criou curadores responsáveis por cada um de seus rios, que são seus representantes legais e respondem por eles. Os rios competem entre si para ver qual está mais bonito!”.
Brasil
“Não é possível que 35% da água por aqui se perca em vazamentos. Os brasileiros são muito descuidados em relação ao uso da água”, advertiu.
“Ainda que o país tenha de 12 a 16% dos recursos mundiais, a água está onde quase não há pessoas. Além disso, com os métodos de irrigação utilizados no país, 80% da água usada se perde pela evaporação”, acrescentou.
“A agricultura 4.0, com o uso de big data, robôs e drones melhorará a eficiência. Israel, desde 1965, utiliza a irrigação por gotejamento. Tudo vira terra arável, inclusive o deserto”.
São Paulo
Como despoluir os rios Pinheiros e Tietê? Como dar valor à água sem valorizar os rios urbanos, vistos como entraves para o desenvolvimento da cidade?
“Em Londres, o Tâmisa foi despoluído porque a população exigiu a mudança da legislação. Governos, cidadãos e mídia devem estar engajados. E também as empresas: as regiões cujos rios são despoluídos têm grande crescimento e atraem as pessoas”.
Mata Atlântica
A Fundação SOS Mata Atlântica apresentou em 2017 um panorama sobre a qualidade da água de 240 pontos de coleta distribuídos em 184 rios, córregos e lagos de bacias hidrográficas do bioma. Apenas 2,5% dos locais avaliados possuem qualidade boa, enquanto 70% estão em situação regular e 27,5% com qualidade ruim ou péssima. 66 dos pontos monitorados estão impróprios para o abastecimento humano, lazer, pesca, produção de alimentos, além de não terem condições de abrigar vida aquática. O levantamento foi realizado em 73 municípios de 11 estados da Mata Atlântica, além do Distrito Federal.