Fernando Lottenberg homenageia Oswaldo Aranha em Porto Alegre

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O presidente da Conib, Fernando Lottenberg, falou na última terça-feira, 28/11 em jantar, em Porto Alegre, promovido pela Federação Israelita do Rio Grande do Sul (FIRS) para comemorar o 70º aniversário do voto da ONU que levou à criação do Estado de Israel e para homenagear o diplomata gaúcho Oswaldo Aranha, que teve participação decisiva na histórica votação da Resolução 181. Veja abaixo a íntegra do discurso:

Excelentíssimo Governador do Estado, Senhor José Ivo Sartori, na pessoa de quem saúdo a todas as autoridades presentes nesta noite. Excelentíssimo Embaixador de Israel no Brasil, senhor Yossi Shelley, na pessoa de quem saúdo os representantes do corpo diplomático. Caro amigo Zalmir, presidente da Federação Israelita do Estado do Rio Grande do Sul e diretor da Conib, na pessoa de quem cumprimento a toda a liderança da comunidade judaica do estado. Senhores rabinos e demais lideranças religiosas. Senhores representantes da família Aranha. Senhoras e senhores, boa noite!

 Estou honrado com o convite para estar aqui essa noite, na qualidade de presidente da Confederação Israelita do Brasil. O kibutz Bror Chail fica na entrada do deserto do Negev. Lá se fala português, há um museu de Adoniran Barbosa, joga-se futebol e, de vez em quando, acorda-se ao som de um ataque do Hamas. Esse recanto brasileiro foi fundado em 1948 por judeus vindos do Egito; uma fazenda-modelo socialista, cuja produção era repartida entre os membros da comunidade. Em pouco tempo, os brasileiros assumiram o kibutz. No início, semearam campos de trigo, criaram gado leiteiro, formaram pomares. Hoje, Bror Chail se tornou uma agroindústria.

Existe ali, no prédio central, uma pequena sala em que são guardados objetos significativos para a história do kibutz; são bandeiras, fotografias, documentos. O destaque da coleção fica em uma estante protegida por um tampo de vidro. Estivemos lá em janeiro último, acompanhados de oito parlamentares brasileiros, incluindo a Senadora Ana Amélia. Estava também o Embaixador Yossi Shelley. Lá estão alguns papéis históricos e um único objeto: um martelo de madeira.

Quando comemoramos 70 anos da votação da partilha da Palestina, vale lembrar que foi esse mesmo martelo que selou a sorte do futuro Estado de Israel.

Em 29 de novembro de 1947, a partilha da Palestina foi aprovada, por 33 votos a favor, 13 contra e 10 abstenções, em sessão histórica na ONU. A presidência esteve a cargo do brasileiro Oswaldo Aranha.

Em 1947, Aranha já dispunha de uma biografia de estadista: fora um dos articuladores da Revolução de 30; ministro da Justiça; ministro da Fazenda e negociador da dívida externa no governo provisório de Vargas. Foi fundamental para que o Brasil escolhesse o lado certo na Segunda Guerra Mundial. Para nosso conselheiro na Conib, Professor Celso Lafer, Aranha chegou à ONU com uma densidade política que os diplomatas de carreira não têm.

Sua missão era das mais complexas. Meses antes do dia 29 de novembro, havia sido criado pela ONU um comitê especial, com a finalidade de estudar e redigir uma proposta de divisão que seria apresentada na Assembleia Geral. Quando o documento foi entregue a Oswaldo Aranha, o diplomata aparou divergências e levou a proposta à votação do plenário. Levou para vencer.

Nosso embaixador é hoje patrono de Bror Chail e foi homenageado com uma praça em Jerusalém. São pequenas lembranças que eternizam um grande momento. O gaúcho de Alegrete, que chegou ao mais alto posto que um brasileiro já ocupou na ONU, foi decisivo na aprovação da partilha da Palestina. E, por isto mesmo, foi indicado ao Prêmio Nobel da Paz em 1948.

Em seu livro Personal Witness, o diplomata israelense Abba Eban, contemporâneo de Aranha na ONU, refere-se a ele como “um homem com fervor quase religioso pela ideia de criar o Estado judeu”.

As dificuldades e intensas negociações que precederam a sessão histórica culminaram com a tentativa dos árabes de adiar a assembleia para uma data incerta no futuro. Mas Aranha impediu a manobra, ainda sem a certeza da vitória. Em 27 de novembro, diante de uma assembleia exausta, perguntou: “Senhores, é justo que num feriado nacional, Dia de Ação de Graças, ocupemos o staff americano com uma votação que pode ser perfeitamente adiada para o dia 29?”.  Na verdade, conseguiu ganhar o tempo necessário para que a proposta conquistasse novas adesões. Vale lembrar que, em busca desses votos, judeus brasileiros também se mobilizaram, pessoas como Abram Kogan, Samuel Malamud e Samuel Wainer.

Estivemos recentemente com Pedro Corrêa do Lago em São Paulo, na Convenção Nacional da Conib.  Ele recuperou a trajetória do avô, num livro excepcional.

Pesquisador, editor, economista e bibliófilo Pedro Corrêa do Lago, organizou o livro Oswaldo Aranha – Uma Fotobiografia.

Não se trata apenas de uma homenagem familiar, mas também do resgate de uma fantástica figura histórica.

Vinte anos depois da votação da partilha, mais uma data a ser lembrada. No dia 5 de junho de 1967, começava a Guerra dos Seis Dias; menos de uma semana mais tarde, o jovem país comemorava a reunificação de Jerusalém e a libertação do Kotel, o Muro Ocidental. Enquanto esteve sob domínio jordaniano, o muro era vetado aos judeus, que não tinham o direito de rezar em seu local mais sagrado.

Para quem aprecia datas redondas, ainda tenho algumas a acrescentar. Faz 120 anos que se realizou o primeiro Congresso Sionista Mundial, em 1897, que lançou as bases para o moderno Estado de Israel.

Também este ano se comemora o centenário da Declaração Balfour, primeira manifestação oficial de uma grande potência em favor da criação de um lar nacional judaico em suas terras milenares.

Balfour, em pouco mais de 100 palavras, reconheceu a enorme necessidade da recriação do Estado judeu. Pena que esse direito demorou tanto a ser realizado; milhões de vidas poderiam ter sido salvas do Holocausto.

Esse difícil retrospecto só faz aumentar o significado da data que estamos lembrando esta noite.

Sete décadas de muito trabalho e uma luta ferrenha para erguer um país moderno e próspero, uma democracia em meio a um mar de despotismo e tiranias.

Temos a plena convicção que, sete décadas depois, Oswaldo Aranha ficaria muito orgulhoso com o resultado de seu trabalho. O espírito de seu plano de partilha permanece, até hoje, como uma solução possível para o conflito do Oriente Médio, com dois Estados para dois povos.

Enfim, meus amigos, estamos aqui hoje para testemunhar e para agradecer.