Daniel Pipes

A revolta na Síria apresenta oportunidades promissoras, humanitárias e geopolíticas. Os países ocidentais deveriam aproveitar o momento resoluta e rapidamente para despachar o homem forte Bashar al-Assad e seus asseclas. Muitos benefícios se seguirão quando eles chegarem à designada lata de lixo da história.

Externo: O maligno, contudo taticamente brilhante Hafez al-Assad, afetou o Oriente Médio por décadas com a influência desproporcionada da Síria. Seu filho, o fraco Bashar, deu continuidade a esse padrão desde 2000 enviando terroristas ao Iraque, assassinando o primeiro ministro do Líbano Rafiq al-Hariri, derrubando o filho dele, Saad, dando assistência aos grupos terroristas Hisbolá e Hamas e desenvolvendo armas químicas e nucleares. Livrar-se dele será uma benção universal.

Contudo, a principal função de Bashar internacionalmente é a de servir como aliado mais importante de Teerã. Apesar dos ocidentais normalmente julgarem a aliança sírio-iraniana como um frágil casamento de conveniência, já dura mais de trinta anos, sobrevivendo a troca de pessoas e mudança de circunstâncias, devido ao que Jubin Goodarzi chamou em 2006 de “preocupações mais amplas sobre estratégia, em longo prazo, dos dois grupos políticos que derivam das suas prioridades de segurança nacional”.

A intifada síria já enfraqueceu o “bloco de resistência” liderado pelo Irã exacerbando o distanciamento político de Teerã em relação a Assad e fomentando divisões na liderança iraniana. Os manifestantes sírios estão queimando a bandeira iraniana; se os islamitas (sunitas) tomarem o poder em Damasco, irão terminar com a conexão iraniana, prejudicando seriamente as ambições de grandiosidade dos mulás.

O fim do governo de Assad aponta para outras conseqüências importantes. Bashar e o partido governante islamita AK da Turquia desenvolveram relações tão próximas que alguns analistas acreditam que a caída do regime de Assad levará ao colapso de toda a política de Ancara para o Oriente Médio. Além disso, a agitação entre os curdos da Síria poderia levá-los a maior autonomia que, por sua vez, encorajaria seus correligionários étnicos na Anatólia a exigirem um estado independente, perspectiva esta que preocupa Ancara a tal ponto dela enviar um grupo numeroso de visitantes de alto nível a Damasco para pressionar, conseguindo sem demora um acordo de contra insurgência.

Os violentos protestos na Síria proporcionam um alívio para o Líbano, que tem estado sob jugo sírio desde 1976. Da mesma maneira, Damasco com a atenção desviada, permite aos estrategistas israelenses, pelo menos temporariamente, se concentrarem nos outros numerosos problemas externos.

Interno: Em uma entrevista presunçosa discutindo os acontecimentos na Tunísia e no Egito e apenas semanas antes da erupção em seu próprio país em 15 de março, Bashar al-Assad explicou a miséria também enfrentada pelos seus próprios súditos: “Sempre que há um levante, é óbvio dizer que há rancor se alimentando no desespero”.

A palavra desespero resume muito bem a condição do povo sírio; desde 1970 a dinastia Assad domina a Síria com um punho stalinista, levemente menos opressivo do que o de Saddam Hussein no Iraque. Pobreza, expropriação, corrupção, estagnação, opressão, medo, isolamento, islamismo, tortura e massacre são a marca do governo Assad.

Contudo, graças à ganância e a ingenuidade do Ocidente, os estrangeiros raramente entendem a real dimensão dessa realidade. De um lado, o regime sírio apóia financeiramente o Centro para Estudos Sírios na Universidade de St Andrews. Do outro, existe um lobby sírio informal. Desse modo, a Secretária de Estado dos Estados Unidos Hillary Clinton se refere a Bashar al-Assad como um “reformador” e a revista Vogue publica um artigo emproado sobre a esposa do tirano, “Asma al-Assad: Uma Rosa no Deserto” (chamando-a de “glamorosa, jovem e muito chique —a mais vivaz e magnética das primeiras damas”).

Um perigo em potencial que pode resultar da mudança de regime deve ser observado. Não espere um coup d’état relativamente tranqüilo como na Tunísia ou no Egito e sim uma revolução ampla e total não apenas contra o clã, mas também contra a comunidade alauíta de onde ele provém. Os Alauítas, seita secreta pós islâmica, compondo cerca de um oitavo da população síria, controlam o governo desde 1966, provocando profunda hostilidade na maioria sunita. Os sunitas estão levando a efeito a intifada e os alauítas estão fazendo o trabalho sujo de reprimir e matá-los. Essa tensão poderá fomentar um banho de sangue, até mesmo uma guerra civil, possibilidades para as quais as potências devem reconhecer e se preparar.

A medida que o impasse persiste na Síria, com manifestantes tomando as ruas e o regime matando esses manifestantes, a política ocidental pode fazer uma diferença decisiva. Steven Coll do New Yorker está certo quando diz que “a hora para negociações esperançosas com Assad já passou”. Chegou a hora de deixar de lado os receios de instabilidade, conforme o analista Lee Smith corretamente observa, “não pode ficar pior do que o regime de Assad”. Chegou a hora de tirar Bashar do poder, de proteger os inocentes alauítas e de lidar com “o diabo desconhecido”.

National Review Online

http://pt.danielpipes.org/9841/fin-de-regime-na-siria
Original em inglês: Fin de Régime in Syria?
Tradução: Joseph Skilnik