“O impacto da Guerra para os jovens soldados” reúne jovens da comunidade judaica

Evento da Fisesp trouxe os soldados do Exército de Israel Dror Farkash, Henry Tkacz e Ariel Fogelman para falar de suas experiências e foi mediado por Márcio Luftglas

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Da esquerda para a direita, Henry Tkacz, Ariel Fogelman, Dror Farkash e Márcio Luftglas.

No último dia 6, ocorreu o evento “O impacto da Guerra para os jovens soldados”. A iniciativa surgiu após a décima terceira edição da Hassefá Ba’ Aretz, o programa de integração comunitária da Fisesp em parceria com o Fundo Comunitário/Keren Hayesod, que visa fortalecer a ligação entre os líderes voluntários e profissionais da comunidade judaica brasileira e o Estado de Israel, e ocorreu entre os dias 19 e 26 de maio deste ano. O objetivo principal dessa edição foi prestar solidariedade a todos aqueles que foram impactados no dia 7 de outubro, analisar as relações entre Brasil e Israel e se atualizar sobre a dinâmica geopolítica da região. 

A palestra, cujo público-alvo eram os jovens, ocorreu na casa de Salim Mansur, diretor da Congregação Monte Sinai, e de sua esposa Ariela Mansur e contou com cerca de cem pessoas, estando entre o público, Marcos Knobel e Ricardo Berkiensztat, presidente e presidente executivo da Fisesp, respectivamente. Os soldados do Exército de Israel convidados a falar sobre suas experiências foram Dror Farkash, Henry Tkacz e Ariel Fogelman, mediados pelo tesoureiro, advogado e sócio do BTG Pactual, Márcio Luftglas.

Dror, que foi o primeiro a se apresentar, contou que foi para Israel em 2018, e após ter concluído seus estudos, ingressou no Exército de Israel, ficando três anos, atuando na engenharia de combate. “Em uma guerra, é o que mais se faz dentro do campo do inimigo. “Todos querem um engenheiro de combate.” afirmou ele. 

Ele continuou dizendo que ficou cerca de 9 meses em Gaza, dentro de um tanque para transporte de tropas. “Virou minha casa.” comentou.  

Dror ainda colocou que só conseguiu se deitar após 3 semanas, pois só era possível ficar sentado ou em pé. Também falou que raramente ele e seus companheiros tomavam banho, tendo que se revezar, o que, segundo ele, estreitou os laços entre eles. “Em dois meses, você conhece alguém 100%, pois está o tempo todo junto dele, passando perrengue.” complementou. 

O soldado disse que uma de suas principais funções era explodir túneis. “Só em Gaza, eu, sozinho, explodi quase 30 túneis.” Ainda comentou que, em dado momento, achou, junto a equipe, mísseis que eram jogados contra Israel e também pôde ver como esses mísseis eram fabricados. “Para mim, foi muito gratificante poder estar ali e destruir tudo aquilo. Me completava. Porque o que o Hamas fez no dia 7 de outubro, não tem desculpa.” afirmou. 

O segundo a se apresentar foi Henry, ele contou que se mudou para Israel em 2014, ficando 5 anos e integrando o Exército, começando em uma unidade chamada Yamas, onde ficou infiltrado à paisana, nos territórios árabes. Depois foi para Nahal, uma unidade de infantaria especial. Saindo do Exército, quase em 2018, foi convidado a passar por um processo seletivo no Shabak, o Serviço de Segurança Geral, responsável pela inteligência e proteção diplomática de órgãos israelenses pelo mundo. 

“Havia 6 anos que eu não ia para Israel, quando, na madrugada do 7 de outubro, abri meu celular e a primeira imagem que vi foi um jipe do Hamas com 10 terroristas em Sderot, atirando contra  uma viatura da polícia. E no serviço militar obrigatório que eu havia feito antes, ficamos três meses em Kerem Shalom, que fica entre Gaza e o Egito e por ter tido essa experiência operacional, soube que estávamos em Guerra, pois era diferente de tudo que eu já havia experienciado durante meu tempo no Exército e nos departamentos de Inteligência. Foi aí que eu decidi que depois de 6 anos, ia largar minha empresa, minha família, minha casa, meus projetos e voltar para Israel.” relembrou. 

Henry também comentou que no começo da Guerra, ele e seus companheiros combateram os terroristas que estavam dentro de Israel, então começaram a fazer entradas periódicas em Gaza, e após o primeiro cessar-fogo, a primeira troca de reféns, o batalhão foi enviado para a divisão de Unidades de Comando de Forças Especiais. “Nossa missão era entrar em Khan Yunis. Fomos enviados para um bairro chamado Alkharrara, o primeiro bairro da entrada de  Khan Yunis, na lateral com a fronteira de Israel e nossa missão era atacar, destruir, matar todos os terroristas daquele bairro.” disse.  

Ele ainda contou que nem todos os dias ele saía em operação em Gaza. Diariamente, ele possuía posições de guarda, mas sempre que havia uma missão em que saía para encontrar uma central terrorista, um grupo terrorista, achava túneis. “Em tempos de Guerra, o que mais achamos são túneis.” afirmou. 

O soldado também relembrou seu último combate em Gaza, que julgou ser o mais difícil. O batalhão estava em Gaza durante o período de Chanuká e na terceira noite, foi chamado para uma missão. “Devíamos atacar uma central terrorista, próxima de uma escola da UNRWA. Nos dividimos em duas equipes, tomamos as casas, nos dividimos em duas casas, e por um erro operacional do nosso major, que queria forçar a entrada em uma casa onde havia informações operacionais de que ali existiam explosivos, sofremos uma emboscada. Tivemos 5 soldados mortos em uma explosão na casa. Tentei sair com minha equipe para resgatar esses corpos e dois terroristas saíram de uma casa ao lado com granadas e RPG, atirando contra nós, tentando nos impedir de resgatar as pessoas e os corpos dos feridos. Foi então que na escola da UNRWA, nos quatro andares, eles se dividiram e havia 13 terroristas das Forças Especiais do Hamas, que continuaram a emboscada contra nós.” comentou. 

Por fim, Ariel teve a palavra. Ele contou que se mudou para Israel em 2016, e voltou definitivamente em 2022. Ele entrou na Inteligência do Exército, a Memem, onde o papel era coletar, processar e executar as informações fora das fronteiras de Israel para que os inimigos não se multiplicassem. Lugares como Líbano, Síria e Gaza, que não é considerado um lugar em Israel. “Nosso papel era falhar o mínimo possível.” comentou.

“Essa guerra que estourou agora em 7 de outubro de 2023, vem sendo construída desde 2015. Há pessoas que falam que foi antes, mas quando eu entrei no Exército, havia claras evidências de que uma guerra simultânea em Gaza e no Líbano ocorreria. Nossos esforços eram para destruir os ativos do Hezbollah, da Jihad Islâmica, das forças que atuam fora do Irã, mas que estão totalmente centralizadas no Irã.” falou Ariel. 

Ele acrescentou que foi chamado para outra unidade, especializada em combate antiguerrilha, que nasceu depois da segunda guerra do Líbano e foi aperfeiçoada em 2001, com o objetivo de combater o Hezbollah. “Quando percebemos que o Hamas era tão ruim quanto o Hezbollah, focamos nele também.” disse. 

O público da palestra. Foto: Ana Lucia Livovschi.

Marcos Knobel, presidente da Fisesp, afirmou que uma reunião como a que ocorreu na casa dos Mansur, é fundamental, primeiro para que os jovens pudessem ouvir um pouco a experiência de quem está em Israel e talvez se motivarem a ir para lá para sentir o que o povo de Israel está passando, que é um momento tão difícil.  “E também refletir com tudo que eles podem fazer para ajudar nossa comunidade. Nós da Fisesp estamos dando toda a assistência através da comunidade, seja do ponto de vista educacional e em parceria com diversas outras entidades aqui em São Paulo e principalmente fazendo uma ponte entre a comunidade e as forças públicas, que tanto protegem nossa comunidade de uma maneira tão boa. Essa amizade que temos com as forças públicas é fundamental. Então podemos ver um reforço no policiamento de praticamente todas as nossas entidades desde o dia 7 de outubro. Isso é fundamental para mostrar para a nossa comunidade, para os nossos jovens que eles devem viver a vida normalmente na nossa cidade, viver a vida como jovens, como judeus e se mostrar como judeus, sem medo de sofrer qualquer ataque, porque estamos atrás deles, garantindo a proteção de toda a comunidade.” ressaltou. 

Henry comentou que é muito importante para ele estar em situações como a palestra, onde ele pode falar para a comunidade o que viveu, vivenciou, um pouco do que sentiu. “Ouvir também de outros soldados, que vêm de outra realidade, soldados que estavam lá em Israel, que é diferente de mim, que voltei depois de 6 anos para o Exército para lutar. Acho que é muito importante passar as imagens e os vídeos para vocês terem uma imersão do que vivemos, apesar de ser impossível de trazer um próximo da realidade.”, comentou Henry. 

“Para mim é uma grande honra falar um pouco da minha experiência, do que eu vivi lá em Israel, em Gaza, no Exército e quero agradecer muito à Fisesp por essa oportunidade.” disse Dror.

Ariel afirmou que ele e os outros soldados tentam condensar toda a sua experiência em um evento só e que é muito difícil escolher as palavras certas para falar com as pessoas. Também ressaltou que eles ficam muito felizes de as pessoas estarem interessadas em saber sobre o tema, depois de tanto tempo que a Guerra estourou. “Pois para nós, é muito importante contar o que de fato aconteceu “no chão” e não o que os veículos de mídia ou os jornais contam para as pessoas, porque vemos que as informações chegam muito distorcidas do que realmente é. É gratificante ver a casa cheia, ver gente que apoia, que doa o tempo para vir escutar. E nós sentimos que estamos fazendo nossa parte, continuando a servir à distância, colocando nossa farda e vindo falar por algumas horas, relembrando os momentos. Nos sentimos acolhidos. E ainda penso que devem ser feitos mais eventos assim,  para gerar mais proximidade entre as pessoas e impactos positivos na comunidade.” colocou. 

“Eu achei muito emocionante. Nos aproxima muito da Guerra. Vemos muito a história de longe, lemos muitas reportagens, mas ouvindo de primeira mão, pessoas do Brasil, de São Paulo, que saíram daqui igual a nós, que tiveram toda essa coragem, é realmente muito inspirador. Muito legal saber os detalhes, e realmente isso nos deixa com mais esperança,  ver as coisas que eles estão conquistando e olhar para cima e apreciar pessoas assim tão boas perto de nós.” disse Deborah Horovitz, uma das jovens que assistiu à palestra. 

“Eu achei incrível tanto saber da Guerra, quanto dos detalhes, e ver fotos, que é muito diferente. Mas o que mais tocou foi ver o depoimento da mãe de um dos meninos [no caso, Dror], mostrando qual a sensação da família, vendo o filho numa guerra e isso nos aproxima muito da Guerra, da família e dos soldados, porque percebemos que cada um é uma vida inteira, uma história inteira e às vezes  só vemos como soldados, que estão fazendo um trabalho profissional, como pessoas que não têm família, como nós.” comentou Alexa Cohab, outra jovem presente no evento como espectadora.

“Gostei muito da experiência. Foi muito bom ouvir esses três soldados. É bom de vez em quando, como moramos muito longe de Israel, eles se aproximarem de nós para entendermos melhor sobre o dia a dia de um soldado, sobre lutar por um Estado que no final do dia, também é nosso, mesmo que vivamos no Brasil. Agregou muito.”, afirmou Maurício Barzialai, um dos jovens que também assistiu ao bate-papo.