Presidente da Conib lembra a “impressionante a atualidade do Caso Dreyfus, cento e vinte anos depois do J’Accuse!”

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O Presidente da Conib, Fernando Lottenberg lembrou a “impressionante a atualidade do Caso Dreyfus, cento e vinte anos depois do J’Accuse!”. “Já estavam lá o antissemitismo, as notícias falsas, enfim, o que continuamos a encontrar hoje em dia, não apenas na Europa, mas igualmente em várias regiões do mundo. Importante lembrar do episódio, de quem agiu para difamar o capitão Dreyfus, acusando-o injustamente e também de quem saiu em sua defesa. Três anos antes do panfleto de Zola, Rui Barbosa já publicara artigo em que o defendia, motivo de orgulho para o Brasil”, destacou Fernando K. Lottenberg.

Em fevereiro de 1895, o “Jornal do Comércio” publicou artigo de Rui Barbosa, advogado brasileiro exilado em Londres, denunciando os excessos do militarismo e os descaminhos do julgamento de Dreyfus. O texto de Barbosa, publicado três anos antes do panfleto de Émile Zola, foi o primeiro da série “Cartas da Inglaterra”. Rui Barbosa destacou que a punição do capitão era uma “rebuscada e caprichosa desumanidade”, o que revoltava, espantava e degradava.

Ele observou que os franceses viviam um “espasmo de ódio insaciável”, sentimento que agitou “contra o acusado todas as classes da população”. Rui lembra-nos que havia uma “multidão espumante, que cercava, ameaçadora, a Escola Militar, brandindo insultos, assuadas e vozes de morte”.

O Caso Dreyfus dividiu a França e promoveu debates sobre os poderes dos militares e o papel da imprensa. Para não manchar a honra do Exército francês, a nobreza, o clero, os antissemitas, os conservadores e os próprios militares ficaram contra a revisão do caso. A esquerda, os progressistas e os liberais lutaram pela revisão e, após outra investigação, levaram a julgamento o verdadeiro culpado, o comandante Esterhazy, que foi absolvido de forma obscura em 11 de janeiro de 1898. No dia 13, o jornal

“L’Aurore” publicou a carta de Zola. “É do redator-chefe a ideia do título forte, emocionado e emocionante, rasgando a página de lado a lado. A carta aberta ao presidente da República termina com oito sentenças curtas que começam com a mesma expressão. Numa opção fulgurante que marcará a história da França e do jornalismo, o redator-chefe puxa a palavra-chave da candente litania e a faz espalhar-se pelas seis colunas: ‘J’Accuse’ (Eu Acuso)”, afirma Alberto Dines, jornalista e organizador do livro “Diários Completos do Capitão Dreyfus”, na coluna “Cem anos de ‘J’Accuse’, as Listas Negras”, publicada na Folha.

Em setembro de 1899, Dreyfus foi anistiado pelo presidente Émile François Loubet, mas somente em 1996, um século depois da farsa jurídica que inflamou a Europa, a total inocência de Alfred Dreyfus, que morreu em 1935, foi reconhecida. Os debates sobre o antissemitismo, a parcialidade de grande parte da imprensa, que liderou um movimento preconceituoso contra Dreyfus, e a reação de intelectuais como Zola, ultrapassaram o tempo e ainda ecoam em nossos dias. “O “J’Accuse” de Clemenceau, cem anos depois, serve para lembrar que não desapareceu a soberba e o despotismo nos clones daqueles que foram os primeiros algozes de Dreyfus”, lembra Alberto Dines em seu artigo na Folha, em janeiro de 1998.