Estudantes da Escola Abigail Grillo vislumbram os horrores do holocausto
Passados mais de setenta anos do fim da Segunda Guerra Mundial, os horrores do holocausto, que resultou na morte de milhões de judeus e outros grupos perseguidos pelo regime nazista de Adolf Hitler, foram compartilhados por um sobrevivente em conversa com jovens estudantes, com idade entre 14 e 18 anos, na manhã desta quarta-feira (24).
A Câmara de Vereadores de Piracicaba, sob a coordenação do vereador André Bandeira (PSDB), promoveu evento interativo com cerca de 150 alunos do 1º ao 3º ano do ensino médio da Escola Estadual “Prof. Abigail de Azevedo Grillo”, na Vila Rezende. O escritor Marcio Pitliuk, da cidade de Itú e o romeno Joshua Strul, de São Paulo, participaram da conversa com os estudantes.
André Bandeira destacou a importância de as novas gerações não perderem de vista a perspectiva do que foi este período na história da humanidade, “para que tais fatos não ocorram nunca mais”.
O parlamentar também enfatizou a sensibilização que o tema provoca, em experiência para toda a vida, e reiterou que os alunos compartilhem do aprendizado, sendo agentes propagadores dos relatos dos sobreviventes, rogando para que o diálogo e o respeito ao próximo possam sempre prevalecer nas relações humanas.
André Bandeira é o autor do requerimento 101/2019, que assegura a realização de evento solene na Câmara, para marcar o Dia da Lembrança, criado em Piracicaba conforme a lei municipal 6.316/2008, de iniciativa do ex-vereador João Manoel dos Santos, em ato que deve acontecer sempre em abril.
No evento desta manhã, os alunos também puderam conferir as explanações de Marcio Pitliuk, autor de “O homem que venceu Hitler”, profundo conhecedor da Segunda Guerra Mundial e um dos maiores especialistas brasileiros do holocausto, que na oportunidade falou em nome da Comunidade Israelita do Estado de São Paulo e agradeceu o papel da Câmara em reconhecimento a esta causa.
Joshua Strul, romeno de 86 anos, a completar no próximo dia 9 de maio, mora em São Paulo e veio a Piracicaba pela primeira vez. Ele discorreu sobre o legado que carrega, no compromisso de difundir um pouco do que foi e viveu dos horrores do holocausto, onde supostamente uma nação considerada de primeiro mundo, no caso a Alemanha, por intermédio do nazismo, tendo Hitler como liderança protagonizou a tentativa de eliminação total de judeus, negros, homossexuais, pessoas com deficiência, maçons, ciganos, católicos, testemunhas de Jeová, prisioneiros de guerra, sindicalistas e comunistas.
Joshua falou da perda do irmão caçula, que morreu aos dois anos de idade, por inanição; do sofrimento de sua família de sete irmãos, que, mesmo atuando no ramo de gêneros alimentícios, passou por extrema penúria, onde sua mãe colhia grama do campo para não morrer de fome.
Também comentou sobre os rigores do inverno, em que exércitos como os de Napoleão e os próprios nazistas sucumbiram perante o frio russo, de 40 graus negativo, sendo que sua família não contava com roupas adequadas.
Joshua ainda comentou sobre a fatídica viagem dos judeus nos “trens da morte” e que, embora não tenha feito parte desta jornada, acompanhou o drama dos judeus. O romeno não mediu esforços para responder aos mais diferentes questionamentos dos alunos sobre o que foi o holocausto.
Daniel Rosenthal representou a Federação Israelita do Estado de São Paulo, seguido por Willian Bueno, da Loja Maçônica Liberdade e Trabalho. O vice-diretor da escola “Abigail Grillo”, Marcelo Valle, também integrou a mesa diretiva dos trabalhos, acompanhado pelo professor Amauri Tolotti, que agradeceu a realização do evento, pontuando que, dentre as inúmeras escolas estaduais em Piracicaba, a “Abigail Grillo” foi a escolhida para recebê-lo.O vereador da cidade de Itú, Ricardo Giordani também integrou a mesa diretiva do evento.
Os alunos: Vitória, Monike, Marcele, Jomatas, Samira, Patrick e Amanda participaram de momento especial, no acendimento das sete velas que remetem ao símbolo judaico, com ênfase às minorias, incluindo prisioneiros de guerra que foram eliminados pelos nazistas.
Aluna do Colégio Anglo Cidade Alta, Aline Bueno, 2º ano do ensino médio, entoou o hino de Israel. A sequência do evento também contou com a exibição de vídeo demonstrando os horrores do holocausto, com depoimentos de sobreviventes que deixaram para a posteridade os mais terríveis relatos de histórias vividas, a exemplo de nazistas que disputavam entre si para ver qual criança jogada sobre espetos chegaria morta primeiro ao chão.
Beathriz Salvador, 17, aluna do 3º ano do ensino médio da “Abigail Grillo”, registou satisfação em ter participado do evento. “Aprendi muito nas palestras, o que veio reforçar um pouco mais do que já sabia sobre este terrível período que foi a Segunda Guerra Mundial, principalmente em função do holocausto. Espero que isso nunca mais ocorra com a humanidade”, disse.
Quadra de esportes do Colégio Anglo Cidade Alta recebeu público de 400 pessoas na noite desta quarta-feira
Um público aproximado de 400 pessoas, de todas as faixas etárias, acompanhou com atenção o depoimento de Joshua Strul, romeno de 85 anos que é sobrevivente do holocausto nazista.
As cadeiras espalhadas pela quadra de esportes do Colégio Anglo Cidade Alta foram todas ocupadas por professores, funcionários, pais e alunos em evento que marcou o Dia da Lembrança, dedicado à memória das vítimas do regime liderado por Adolf Hitler que causou a morte de 6 milhões de pessoas durante a Segunda Guerra Mundial.
O evento, realizado na noite desta quarta-feira (24) pela Câmara por iniciativa do vereador André Bandeira (PSDB), despertou a curiosidade do público sobre a trajetória de Joshua, radicado no Brasil desde 1956. O depoimento do sobrevivente do holocausto foi precedido pelo acendimento de sete velas em memória às vítimas do nazismo, entre judeus, negros, homossexuais, testemunhas de Jeová e outras minorias.
Joshua morava com a família em Moinesti, pequena cidade da Romênia de maioria cristã, cuja comunidade judaica destacava-se pela produção de vinhos e laticínios. “Era uma cidade próspera e pujante, de convívio cordial e harmonioso. Havia três sinagogas, onde professávamos livremente nossa fé. Vivíamos muito felizes”, disse o romeno, cuja pronúncia ainda carrega o sotaque de sua terra natal.
A invasão da cidade pelas tropas nazistas, em 1941, mudou a rotina de Joshua, que lamenta ter tido a “infância roubada”, e dos outros moradores. “Éramos os bodes expiratórios pelo mal que acontecia no mundo inteiro. Um decreto ordenava o confisco de todos os bens e a deportação dos judeus em 24 horas sob pena de fuzilamento aos que desobedecessem.”
Os alimentos tornaram-se escassos e seus pais, conta Joshua, foram relegados “à própria sorte”. Numa das passagens mais comoventes do depoimento, o sobrevivente lembrou as táticas da mãe para matar a fome da família. “Minha mãe, sabendo que a barriga vazia atormenta, colhia grama no campo, fritava com gordura e alimentava-nos a fim de vivermos mais um dia.”
Ela, “uma boa faxineira”, também fazia sopa com as cascas das batatas que, antes, haviam sido usadas no preparo de refeições nas casas dos mais abastados. Para tanto, cortava um pouco mais grossas as cascas para que nelas ficasse algo das batatas. “Éramos obrigados a portar a famosa estrela amarela e enfrentamos duros invernos sem roupas adequadas. Foi uma feroz luta pela sobrevivência”, resumiu.
Joshua assistiu a muitos conterrâneos serem transportados para campos de extermínio em vagões de trem próprios para gado. “Posteriormente soube que o destino era Auschwitz. O que me chocou profundamente foi presenciar as pessoas espremidas, desnutridas, fracas e sufocadas; muitas não aguentaram a fatídica viagem, deram um último suspiro e morreram em pé, no trem. Já chegavam a Auschwitz mortas.”
O sobrevivente disse que o fato de não ter embarcado nos vagões “se deveu à providência divina”. “Por muito pouco não me tornei mais uma das crianças indefesas assassinadas por um único motivo: ter nascido sob a estrela de Davi”, comentou Joshua, que afirmou ter “dívida de gratidão ao povo brasileiro pela acolhida de braços abertos”.
Estabelecido em São Paulo, ele consolidou a veia de comerciante que o havia feito fugir da Romênia, passar pela Itália e vir de navio ao Brasil. “Trabalhei arduamente, formei família, tenho quatro filhos. Ia de porta em porta na Freguesia do Ó, vendendo mantas, cobertores e colchas. Por milagre divino estou vivo, sendo resiliente”, concluiu.
A vinda de Joshua a Piracicaba foi exaltada no evento. André Bandeira enfatizou que o sobrevivente é testemunha de um “período terrível da humanidade”. “Não é dia para se comemorar, mas para trabalhar a conscientização. Que possamos passar o que ouvimos aqui à frente, aprender com a história e não deixarmos que venha a se repetir”, salientou o vereador, que lembrou o papel de Jayme Rosenthal, falecido em 2014, para que o Dia da Lembrança passasse a ser realizado anualmente em Piracicaba.
Mantenedor do Anglo Cidade Alta, Dorival Bistaco disse que a participação de Joshua no evento desta quarta-feira constitui um “presente” ao colégio, que completa neste mês 47 anos, e um “momento ímpar” aos alunos, pela oportunidade de ouvir o testemunho de alguém “que viveu um período tão dramático”.
“Coincidentemente, os professores já estavam trabalhando esse tema em sala de aula”, comentou Dorival, que em seguida se dirigiu aos estudantes. “Devemos cada vez mais nos engajarmos para que coisas desse tipo jamais aconteçam. É uma fala triste, mas de reflexão para entendermos que devemos respeitar as diferenças.”
“A presença aqui de um sobrevivente do holocausto é um privilégio que a próxima geração não terá mais”, disse Marcelo Rosenthal, da comunidade israelita de Piracicaba, que chamou Joshua de “herói”. “O que ocorreu no holocausto está mais atual do que sempre foi. Que nunca nos esqueçamos do que houve”, acrescentou William Bueno, que representou as lojas maçônicas da cidade.
Marcio Pitliuk, autor de “O homem que venceu Hitler”, falou sobre o contexto histórico que levou à perseguição, sobretudo, aos judeus durante a Segunda Guerra Mundial. “Hitler convenceu o povo alemão de que eles eram uma raça superior, que mereciam conquistar o mundo, que todos que não fossem alemães deveriam servir a eles e que os judeus eram uma raça inferior e, portanto, deveria ser destruída.”